Olhando para trás e para frente: Feliz ano novo!

O final de ano não costuma ser fácil. Para alguns é um turbilhão de euforia, alegria e motivação, para outros de obrigações, desencanto e exaustão.

Em todo caso, o final do ano marca transições que nos leva a refletir sobre o passado e o futuro., sobre as perdas e possibilidades.

E, sabemos que as perdas doem e demoram a passar, mas que nessa transição do ano que termina, possamos reconhecer nossas dores e olhar para o futuro que vem. E Cantar com Belchior,

“Tenho sangrado demais, tenho chorado pra cachorro
Ano passado eu morri, mas esse ano eu não morro”*

Desejamos que 2024 seja um ano de renascimento, fortalecimento e de realizações.

São os votos da Equipe do CEPAES

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Algumas reflexões sobre o sentimento de Abandono

 

O Abandono é um tema arquetípico por excelência. Tanto seu aspecto ativo (abandonar, desapegar) quanto o passivo (ser abandonado) estão presentes em diferentes situações na dinâmica dos heróis, da criança divina, nas migrações, e em todos esses processos podemos vislumbrar a ubiquidade do abandono. Assim, todos nós, em algum momento, nos sentimos abandonados, sendo algo necessário para a diferenciação da consciência, amadurecimento do ego e da relação com o self. Nosso objetivo, porém, não é pensar o sentimento de abandono pelo viés arquetípico ou pelo viés da individuação, mas pelo viés pessoal, onde as relações, complexos e defesas se organizam ao longo do desenvolvimento gerando sofrimento.  

O abandono ou sentimento de abandono é uma realidade psíquica que deve ser sempre considerada. Muitas vezes somos tentados a fazermos a distinção entre o abandono real ou imaginário, mas na verdade, o que importa é o sentimento ou sensação de abandono, o registro interno, pois ele indica uma experiência vivida interna ou externamente. 

De forma geral, observamos o abandono em seu aspecto objetivo, como abandono físico/material. Mas a maior parte dos abandonos se dá de forma subjetiva, vividos desde a infância como abandono “afetivo”, que pode compreendido em menos três aspectos:

  
1o – Envolve mais propriamente o campo afetivo que se dá na deficiência do envolvimento ou investimento afetivo especialmente na relação com as figuras parentais. Esse investimento afetivo seria natural numa relação eu-você (sujeito com outro sujeito), mas nessas situações vividas como eu-isso (sujeito com objeto), nessa relação nos sentimos como “coisa” e não como pessoa. Deixando um profundo sentimento de rejeição e baixa autoestima.    

2o – É o cuidado insuficiente ou mesmo protocolar atendendo às necessidades vitais ou obrigações, mas sem criar uma relação e ambiente suficiente seguro para o desenvolvimento, gerando um movimento defensivo da persona (falso self), que força uma adaptação e um “amadurecimento” para qual a criança não estava pronta – o que tira precocemente a criança da infância. Tal situação pode deixar uma sensação de desamparo, mesmo diante da percepção que “nada faltou”. 

3o – É a desproteção, que traz a sensação constante de insegurança e desamparo.  Muito relacionada às comunicações ambivalentes ou de duplo vínculo, ou seja, conflitante que afirma e nega, valoriza e desmerece; ou às constantes punições e ameaças, deixando a criança numa constante sensação de ansiedade e medo.  

Em todas essas situações o registro interno é de “abandono” (às vezes traduzido como desamparo, insegurança).  Naturalmente, nossa psique tenta lidar ou elaborar essa vivência sofrida, se defendendo e tentando “compensá-la” ou “evitá-la”.  Essas tentativas da psique se refletem tanto nos padrões de apego (inseguro, ansioso, evitativo ou ambivalente), gerando sentimentos contraditórios de si-mesmo,  dificuldade de expressão do afeto, dificuldade relacionar-se consigo mesmo e com o outro.   

Quando o sentimento de abandono é o pano de fundo da experiência do indivíduo, ele se defende na mesma medida em que deseja o relacionamento.  Pode afastar-se das pessoas amadas, rejeita-las para não ser rejeitado (com um peso e sofrimento mortal), se julgando indigno de afeto, revivendo a rejeição e o abandono, mantendo-se abandonado em solidão.  

Outra possibilidade é lançar-se precipitadamente em relacionamentos, abandonando-se no outro, sem reconhecer a si mesmo, nem seus desejos ou necessidades, vivendo à mercê do desejo do Outro. A busca incessante por aceitação ou mesmo por ideal de “perfeição” é uma máscara para o sentimento profundo de rejeição. A música de Jacques Brel “Ne me quitte pas” (1959), expressa bem essa vivência negação de si mesmo, quando diz 

“Deixa que me torne  

a sombra da tua sombra, 

A sombra da tua mão, 

A sombra do teu cão 

Não me deixe”  

A  psicodinâmica do sentimento de abandono envolve complexos parentais e de poder que envolvem o sentimento de impotência e fracasso; o ego fragilizado, identificado com os objetos negativos – que trazem culpa, uma autopercepção e autoestima, distorcidas e defesas que fecham o indivíduo em seu mundo solitário, evitando uma devastação posterior. 

Na análise/psicoterapia, identificar o sentimento (que se manifesta muitas vezes na transferência e na resistência) é o primeiro passo que nos ajuda a investigar a história do paciente, as implicações afetivas e defensivas associadas a seus complexos, permitindo assim a compreensão do sofrimento presente, das relações atuais e avaliar quais as reparações no presente e as possibilidades de desenvolvimento no futuro. 

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Fabricio Fonseca Moraes (CRP 16/1257)

Psicólogo Clínico Junguiano, Supervisor Clínico, Especialista em Teoria e Prática Junguiana(UVA/RJ), Especialista em Psicologia Clínica e da Família (Saberes, ES). Especialista em Acupuntura Clássica Chinesa (IBEPA/FAISP). Formação em Hipnose Ericksoniana. Coordenador do “Grupo Aion – Estudos Junguianos” Atua em consultório particular em Vitória desde 2003.

Contato: 27 – 99316-6985.

e-mail: fabriciomoraes@cepaes.com.br

Instagram @fabriciomoraes.psi

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Grupo de estudos junguianos 2024!

A proposta para o primeiro semestre é revisitar textos de Jung visando compreender conceitos fundamentais e amplificá-los à luz da psicologia analítica contemporânea e desenvolvimentista.  

✅ A proposta de textos base para primeiro semestre serão:  

Jung, C.G Sobre o inconsciente – Os arquétipos e o Inconsciente coletivo 

Jung, C.G. Considerações Gerais sobre a teoria dos Complexos – A Natureza da Psique 

Jung, C.G. A Função Transcendente – A Natureza da Psique 

Jung, C.G. O Eu – Aion – Estudos do Simbolismo do Si-Mesmo 

Jung, C.G. A sombra – Aion – Estudos do Simbolismo do Si-Mesmo 

Jung, C.G Sizigia: Anima e Animus – Aion – Estudos do Simbolismo do Si-Mesmo 

Jung, C.G, O si-mesmo Aion – Estudos do Simbolismo do Si-Mesmo 

Jung, C.G, Consciência, inconsciente e Individuação – Os arquétipos e o Inconsciente coletivo 

Obs: Textos poderão ser adicionados ou trocados de acordo com o grupo. 

✅ Como funcionará? A leitura do texto será feita antes do encontro. No encontro será feita uma apresentação geral do texto e será aberto espaço para comentários e dúvidas acerca do texto lido. A partir das dúvidas e comentários serão feitas amplificações. 

✅ Quando nos encontraremos? Nas segundas-feiras, das 20 as 21h30, segundo o cronograma. 

1o. Semestre:  

Fevereiro: 05/02; 19/02 e 26/02 – dia 12/02 é carnaval. 

Março: 04/03; 11/03; 18/03 e 25/03. 

Abril: 01/04; 15/04; 22/04 e 29/04 – em abril 08/04 é festa da penha, feriado em Vitória. 

Maio: 06/05; 13/05; 20/05 e 27/05. 

Junho: 04/06; 10/06 e 17/06 e 24/06 

Totalizando 19 encontros no primeiro semestre. 

Os encontros serão online, pela plataforma zoom. Os encontros serão gravados. 

✅ Investimento/mensalidade (primeiro semestre): 

Estudantes de graduação e ex-alunos da formação do CEPAES: 100 reais ( ou 460 em até 5x no cartão) 

Profissionais: 120 reais. (ou 550 em até 5x no cartão). 

Após o pagamento o participante serã inscrito no grupo do whatsapp

Inscrições: clique aqui!

✅ Coordenação: 

Fabrício Fonseca Moraes – (CRP 16/1257). Psicólogo clínico junguiano graduado pela UFES. Especialista em Psicologia Clínica e da Família pela Faculdade Saberes; especialista em Teoria e Prática Junguiana pela Universidade Veiga de Almeida; Especialista em Acupuntura Clássica Chinesa pelo Instituto Brasileiro de Ensino e Pesquisas Aplicadas/Faculdade Interativa de São Paulo e com formação em Hipnose Ericksoniana pelo Instituto Milton Erickson do Espírito Santo;  Diretor Clínico do CEPAES, Professor do curso da Formação em Psicoterapia Junguiana. Estuda a Psicologia Analítica desde o ano 2000, e atua desde 2004 em consultório particular.  

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Pensando a interpretação na Psicologia Analítica

“a interpretação psicológica (já preparada pelos alquimistas) conduz à ideia da totalidade humana. Esta ideia tem primeiramente importância terapêutica, porque pretende apreender por meio de um conceito o estado psíquico resultante do lançamento de uma ponte para transpor uma dissociação, a saber, a distância entre a consciência e o inconsciente.”

Jung, Mysterium coniunctionis

Um tema pouco falado na psicologia analítica é a interpretação, para alguns esse tema é quase uma “heresia”, pois insistem de forma quase solene e doutrinal “Jung não fazia interpretações”. Enfim, não entraremos nessa discussão infrutífera, pois nos textos de Jung o termo “interpretação” aparece livre dos preconceitos(como vemos na epigrafe), diferente do que alguns alimentam. Essa “polêmica” tem relação com fato de haver uma separação da clínica com teoria. Isso ocorreu especialmente porque Jung não deixou escritos sobre técnica analítica, frisando basicamente seu método dialetico e fundamentalmente e a amplificação, justamente para evitar que a análise deixasse de ser uma experiência singular entre analista-paciente e se fixasse em perspectivas teórico-doutrinárias. 

Não obstante, muitos analistas buscaram delimitar aspectos da clínica e da relação terapeutica que poderam ser descritos como “técnica analítica junguiana”, na medida que em servem como uma referência geral, um nome que possibilita que o analista compreenda seu trabalho – na medida que o exerce em sua particularidade e na relação com o analisando.

Parte da dificuldade em trabalhar a interpretação na psicologia analítica está em definir o que é a interpretação. Lambert, faz uma referência etimologica importante que nos ajuda a pensar a importância do termo “interpretação” nos diz que 

Partridge, em Origens, demonstra a derivação da palavra interpretação” do latim pretium que significa “preço”, com paralelos em louvar, precioso, apreciar e depreciar (1958, p. 525). Uma interpretação refere-se ao trabalho de um negociador, intermediário ou de um agente comissionado. Presumivelmente, os analistas são, de alguma forma, tudo isso. Eles descrevem e negociam entre as várias partes da personalidade do paciente e, em discussão com o paciente, atribuem-lhes peso ou valor entre, por exemplo, as suas complexidades e as suas simplicidades, o seu ego e o inconsciente, o ego e o self; etc. Isto também se aplica à transferência do paciente e a outras relações interpessoaisi (LAMBERT,1981, p45)  

O papel do analista como um mediador, que observa, que entra em contato com o inconsciente do paciente, auxiliando no reconhecimento e integração de conteúdos importantes – que o paciente julgava sem valor. O investimento de energia do analista, possibilita que o paciente acolha o valor sua história, de seus conteúdos e seus valores para viver a individuação.  Ao interpretar o analista convida o paciente a olhar para si, de modo diferenciado. Promovendo a integração e dialogo interior.  

Michael Fordham foi um importante analista que enfatizou clínica em sua obra, compreendendo a clínica a partir de seus próprios processos clínicos e não pela amplificação mítica/arquetípica. Acerca da interpretação ele afirmou

(…)este procedimento tanto conecta o paciente com seu passado de uma forma significativa e pode iniciar o processo de mudança para libertá-lo de ficar preso nele pelo resto da vida. (FORDHAM, 1974, p.XI tradução nossa)ii  

Nessa perspectiva a interpretação se refere a intervenção feita junto ao paciente que possibilite o paciente integrar sua história, a qual podemos também nomear como passado, complexos, sombra ou inconsciente.  

Com esse intuito a interpretação assume um papel importante no processo analítico por ser capaz propiciar o processo simbólico de transformação da atitude da consciência do paciente. Este processo, contudo, não deve ser compreendido como exercício teórico ou de imposição de uma teoria. Fordham apresenta alguns pressupostos interessantes para se pensar a interpretação, são eles: 

(1) Uma interpretação é principalmente, mas não exclusivamente, um ato intelectual derivado da experiência de um analista.  

(2) Conecta as afirmações do paciente que possuem uma fonte comum desconhecida pelo paciente. Então, quando o analista fala ao paciente sobre a fonte, ele faz uma inferência que vai além do material atual em questão. 

(3) Para ser eficaz, uma interpretação deve ser organizada e foram feitas tentativas para definir a sua estrutura, por vezes de forma muito precisa. Ezrael (1952), por exemplo, propôs que nada poderia ser chamado de interpretação que não incluísse a palavra “porque”, para indicar a inferência do analista. Isso restringe demais o termo e, sem negar o valor de uma definição tão precisa, omite o elemento preditivo necessário ao considerar o efeito que uma interpretação terá sobre o paciente. 

(4) A interpretação deve ter por objetivo ajudar o paciente a controlar a ansiedade, aliviar a culpa excessiva ou outras obstruções ao bom funcionamento da sua vida mental. Faz isso trazendo um processo ou estrutura inconsciente, para a relação com o ego, alargando assim o campo da consciência. Se isso não acontecer com frequência adequada, o procedimento analítico e, especificamente, a aliança terapêutica, será prejudicada e o trabalho contínuo de análise pode cessar.

(5) O valor interpretação está representado no afeto enraizado no inconsciente do analista inconsciente do analista. Isto fornece aquele elemento de espontaneidade que numa interpretação que faz toda a diferença na sua eficácia. 

(6) A validade de uma interpretação só pode ser verificada na entrevista analítica. De acordo com esta proposição, o que o analista comunica ao seu paciente é essencialmente diferente do que ele sabe após a entrevista, ou pensa que descobre sobre um paciente quando fala com um colega, ou quando escreve um artigo ou livro em que o material de uma entrevista está a ser analisado mais do que aconteceu na entrevista. Qualquer descoberta que ele faça nestes contextos não é passível de validação no contexto analista-paciente porque está a ser dirigida a um público diferente; assim, uma interpretação só pode ser verificada em relação em relação aos destinatários. Não quero insinuar que as discussões fora das entrevistas sejam inúteis, que não servem para nada; podem esclarecer dados difíceis, mas o que se pensa não pode ser validado em relação ao paciente.iii(FORDHAM, 1986, 113-4 – tradução e grifos nossas) 

A partir desses pressupostos podemos compreender a dimensão da interpretação pela visão de Fordham. Como resultante natural da relação analítica, a interpretação decorre da elaboração dos processos contratransferencias (que explicitam os aspectos afetivos e conteúdos incosncientes projetados no analista). Como a interpretação visa o restablecimento relação da consciencia ou inconsciente, integrando os conteudos que geram sofrimento. A interpretação sempre é validada pelo paciente, em seu processo simbólico e de transformação. Não importa o quão “brilhante” ou original seja a interpretação se não fizer sentido para o paciente, isto é, se não for validada pelo paciente, é inútil.

A interpretação é uma comunicação especial dentro do enquadre analítico. Como dito acima, a interpretação tem uma intenção (integrar processos conscientes e inconscientes), um objeto (que pode ser a transferência, um sonho, resistência, defesas, projeções, fantasias, etc…), um processo (que atende a relação dialética entre paciente e analista) que se manifesta sobretudo na linguagem verbal – mas, pode ter expressões não verbais.

Apesar da interpretação ser um processo racional, a sua expressão não deve ser uma “racionalização teórica ” ou intepretação é uma comunicação simbólica que se ajusta a realidade do paciente. Mark Winborn, falando sobre a interpretação nos diz

Uma boa interpretação, tal como um bom poema, começa muitas vezes com o algo familiar mas, ao longo do caminho, revela algo não visto anteriormente ou não pensado, ao mesmo tempo que cria algo novo na psique do paciente. Esta é a base poética da interpretação.
Uma interpretação eficaz exige que se escute o paciente como se escuta um poema ou uma canção – isto é, ouvir como as palavras se juntam (a sintaxe para além do o significado semântico), a forma como as metáforas são transformadas e manipuladas, e como os poemas e as canções que nos cativam são aqueles que não só nos falam mas também nos surpreendem de alguma forma. (WINBORN, 2019, p.46 – tradução nossa)

A interpretação é uma metafora, um análogo possível ao conteúdo inconsciente que possibilita que a emergência do símbolo. Na interpretação busca-se apresentar o paciente a si mesmo. Dessa forma, é sempre uma sintese, uma criação conjunta. A linguagem da interpretação é uma ponte simbólica do individuo para ele mesmo, sendo essencial que contenha abertura para o novo, não sendo taxativa, racionalista ou teórica.

Como a interpretação emerge na relação analítica, ela precisa ser considerada como muita atenção pelo analista para não gerar interpretações inoportunas, inadequadas ou equivocadas. Winborn sugere que modelo de reflexão

Outro modelo de organização que considero útil são os quatro W’s – [what, where, When, Why] o que, onde, quando e porquê- que é adaptado de um modelo desenvolvido por Riesenberg-Malcolm (1995). A autora propõe três fatores centrais a serem considerados pelo analista durante o processo interpretativo que pode ser resumido como “o quê”, “onde” e “quando “que formam a lógica por detrás de uma interpretação. Considero benéfico considerar o modelo de Riesenberg-Malcolm de forma mais alargada do que ela o apresentou, e acrescentei acrescentei uma área adicional de enfoque – nomeadamente o “porquê”. (WINBORN, 2019, P.90-1 – traduação nossa)

Esses quatro elementos são muito úteis diante da possibilidade da interpretação. Vejamos cada um:

O quê – Segundo Winborn, indica o foco da interpretação, o que será interpretado? Poderia ser a trnasferência, a contratransferência, a relação com um complexo, um processo de defesa, resistência, um simbolo, um sintoma, um sonho, tema arquetípico recorrente.

Onde – Se refere a localização da preocupação do paciente, seja relacionado ao próprio paciente (dentro de si mesmo), ao analista ou na relação entre analista e paciente. Assim, pode partir do ponto de vista subjetivo do paciente, do percepção do analista ou intersubjetivo.

Dependendo do assunto da interpretação, ela pode ser formulada a partir da auto-perspetiva do paciente, a perceção que o paciente tem de mim, a perceção que o paciente tem de outra pessoa importante, ou a preocupação do paciente com o que está a acontecer numa relação, incluindo a sua relação comigo. Por exemplo, um paciente que se sente pouco atraente pode estar mais pode estar mais preocupado com a sua auto-perceção do que com o fato de eu o ver como pouco atraente.Para que uma interpretação que envolva o sentimento de falta de atratividade do paciente seja eficaz, seria importante focar a interpretação apenas na auto-perceção do paciente e deixar de fora outras perspectivas possíveis. Essa interpretação pode focar-se em como surgiu o sentimento de falta de atratividade ou quais os factores que mantêm essa auto-perceção. (Winborn, 2019, p. 91 – tradução nossa)

Quando – Se refere o momento em que se oferece a interpetação, isto é, da disponibilidade ou receptividade do paciente a interpretação. “O tempo de uma interpretação é baseado na experiência, julgamento, intuição, conhecimento do paciente e conexão com a contratransferência.”(ibid, p. 91-2 – tradução nossa) A interpretação pode ser imediata ou levar anos para ser apresentada. Devendo o analista se perguntar quando é apropriado oferecer a interpretação, tanto quando surge para o analista e quando paciente terá recepitividade para receba-la.

O porquê – Este é o elo de ligação entre todos os elementos anteriores. É se questionar se a interpretração é necessária, se atende as questões que o paciente traz para análise e se com ela o processo poderá avançar.

Esses quatros elementos ajudam na reflexão, na organização e na comunicação com o paciente. Naturalmente, o processo de elaboração da interpretação depende da capacidade do analista estabelecer uma relação dialética tanto com o paciente quanto com seus próprios conteúdos internos. A capacidade de estabelecer essa relação de dialética interna, possibilita perceber o que é percebido por seus orgãos sensoriais, atos falhos, emoções, afetos, suas fantasias e imagens que emergem a partir de sua relação com o paciente. Para a tanto é importante abrir um espaço interno, sem julgamento que possibilidade que os processos inconsciente do próprio analista se manifeste como resposta ao paciente.

O processo interpretativo envolve um variáveis que contribuem para o processo: teoria analítica, intuição, sentimento, influências inconscientes influências inconscientes, as personalidades do paciente e do analista, e o campo intersubjetivo constituído pela díade analítica. No entanto, cada uma destas variáveis requer uma metodologia para estruturar a sua utilização.(…) A noção de ciclo de interpretação sublinha igualmente a ideia de que nenhuma interpretação existe isoladamente. Cada interpretação é uma pequena peça de trabalho psicológico psicológica no contexto narrativo mais alargado de uma análise; cada uma delas contribui potencialmente para para o movimento progressivo da psique em resposta à situação analítica. (WINBORN, 2019, p.51-2)

Winborn (2019) sugere compreender que para além de “um ato analítico” a interpretação seja compreendida como o processo interpretativo, que inclusive possa ser compreendido em partes, como fases ou passos, ressaltando os diversos aspectos do processo interpretativo. Os quatro aspectos/fases seriam:

Observação confrontativa – Consiste em indicar ou chamar a atenção do paciente para um ato, padrões de comportamento, afeto, respostas para as quais o paciente possa não estar consciente. O “confronto” nada mais é que colocar esse conteudo diante do paciente. Um exemplo, seria “eu tenho percebido, que sempre que você fala da sua mãe você arregala os olhos e se encolhe na poltrona”. Uma carateriste do confronto é não ir além do que é apontado. é apresenter o objeto, é apresenter e permitir que o paciente sinta, perceba e entre em contato com esse fato que se faz notar ao analista. Uma vez conscientizado, naturalmente haverá um movimento interno no paciente que buscará o sentido/significado dessa vivência apontada pelo analista.

Inferência elucidativa – ou “esclarecimento por inferência” Este é um passo intermediario entre a Observação confrontativa e a interpretação. Seu objetivo não é explicar, mas estabelecer uma possivel relação entre algo manifesto (sintoma, comportamento, afeto, etc…) com algo que vai para além do mesmo, indicando outro movimento interno. Contudo, sem estabelecer uma explicação. Por exemplo, após um paciente, sofria com o execesso de controle dos pais, se dar conta que conseguiu fazer suas primeiras escolhas por si mesmo, pode-se apontar “você parece espantado com a autonomia que você está ganhando”. É importante considerar que as inferências elucidativas assim como as observações confrontativas se sucedem mutuamente, em meio ao dialogo do analista com o paciente, sempre permeada por perguntas que possibilitam essas expressões do paciente.

Interpretação – A interpretação é uma comunicação atribui um significado a algum conteúdo do paciente que antes não era percebido. Ou seja, a interpretação estabelece uma relação entre um conteúdo atual com sua matriz inconsciente – que geralmente está associado um complexo. Para tanto, é necessário compreender a história do paciente, compreender seus padrões, para poder trazer de forma completa, porém suscinta, uma interpretação que integre o momento atual com a história, produzindo um sentido simbólico que integre a vivência atual e sua história até então consciente. Em exemplo avulso de uma interpretação poderia ser “me parece que julgamento tão severo que você tem sobre as pessoas que se aproximam, é uma forma de você se proteger você da uma rejeição ou do sentimento de rejeição que você sentiu na sua adolescência”.

Construção – A construção remente a própria construção do processo anaítico, onde os padrões interpretativos conduzem a uma nova percepção de si, a uma nova expressão de relação interior e do Self. Assim, a construção está intimamente ligada ao processo de transformação e individuação.

A interpretação é uma expressão da função transcendente vivida na relação transferencial. Por isso, em última análise só fará um sentido imediato ao par analítico. Assim, o analista deve se ater a realidade psiquica do paciente, compreendendo que processo se dá no campo intersujetivo (transferêncial) co-criado pelo analista e paciente, sem se fixar em premissas teóricas e significados rigidos.

A análise produz sempre uma certa indeterminação, onde não dá para se fixar numa ideia de “certo e errado”, o foco é a individuação e a transformação da personalidade. Esta transformação só é possivel quando sustentamos a tensão entre o “saber” e do “desconhecido”, vivenciando e integrado o “desconhecido” através da experiência simbólica e afetiva do Self.

A interpretação é um ato analítico fundamental, pautado na ética e no processo de individuação do analista e visando a individuação do analisando.


Referências

FORDHAM, M R. Gordon, J. Hubback and K. Lambert (eds), Technique in Jungian Analysis. London: Heinemann, 1974. 

FORDHAM, M. Jungian Psychoterapy – A study in analytical psychology, London: Maresfield, 1986. 

LAMBERT, K, Analysis, Repair and Individuation, London: Academic Press, 1981. 

WINBORN, M. Interpretation in Jungian Analysis, New York: Routedge, 2019.

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Fabricio Fonseca Moraes (CRP 16/1257)

Psicólogo Clínico Junguiano, Supervisor Clínico, Especialista em Teoria e Prática Junguiana(UVA/RJ), Especialista em Psicologia Clínica e da Família (Saberes, ES). Especialista em Acupuntura Clássica Chinesa (IBEPA/FAISP). Formação em Hipnose Ericksoniana. Coordenador do “Grupo Aion – Estudos Junguianos” Atua em consultório particular em Vitória desde 2003.

Contato: 27 – 99316-6985. / e-mail: fabriciomoraes@yahoo.com.br/ Twitter:@FabricioMoraes /Instagram @fabriciomoraes.psi

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Complexos Culturais    

Dra. Kelly Guimarães Tristão

(Este texto é um fragmento da tese de doutorado de Kelly Guimarães Tristão “O CAPSIJ como lugar de cuidado para crianças e adolescentes em uso de substâncias psicoativas. 2018.”

Para compreender o conceito de complexos culturais, elemento importante especialmente para o entendimento do lugar dos indivíduos no grupo social a que pertencem, e como esse grupo os afeta também inconscientemente, é preciso tecer uma articulação entre a teoria dos complexos (Jung) e a teoria do inconsciente cultural (Henderson). 

A Teoria dos complexos é uma construção teórica fundamental na perspectiva junguiana.  Segundo Jung, um complexo de tonalidade afetiva “é a imagem de uma determinada situação psíquica de forte carga emocional e, além disso, incompatível com as disposições ou atitude habitual da consciência” (2013, p. 43). Assim, o complexo possui uma “tonalidade emocional própria”. O complexo tem como núcleo o arquétipo, ao redor do qual são atraídas, e se amalgamam num mesmo lugar psíquico, diversas imagens, ações, sentimentos, com qualidade similar a seu núcleo.  Dotado de grande coerência interna, possui uma certa autonomia, comportando-se no âmbito da consciência como que tivesse voz própria.  

A teoria do Inconsciente cultural, outro nível importante para a compreensão do conceito de complexo cultural, advém de Joseph Henderson (1984), que introduziu a ideia de um nível cultural da psique chamado de “inconsciente cultural”. A teoria de Henderson abre uma porta para a teoria junguiana compreender a psique também num espaço entre o nível pessoal e o nível arquetípico; possibilitando, assim, o entendimento de que tanto o nível pessoal como o coletivo são culturalmente influenciados.  

Nessa direção, entende-se o coletivo a partir de duas dimensões: uma arquetípica, que é natural e transcultural; e outra cultural, que é histórica, étnica e estereotípica. A partir dessas dimensões, os seres humanos também realizam aquisições via inconsciente. (Araújo, 2002).  

Parece estar ele falando de temas culturais que influenciam o indivíduo, pois localiza essas estruturas, que chama de “primitivas”, numa espécie de “alma étnica”, material simbólico derivado da cultura. Do ponto de vista psicológico, as sobrevivências seriam o conteúdo formativo do inconsciente, não só da face individual, mas também da coletiva, independente da ‘fachada superficial do psiquismo consciente’ (Araújo, 2002, p. 30). 

Tanto quanto o corpo e a dimensão ideativa-emocional, a sociedade e a cultura são fontes da realidade simbólica, e através de seus diferentes símbolos torna-se possível comparar as culturas e perceber suas semelhanças estruturais, sem perder de vista as diferenças históricas e culturais (Araújo, 2002).  

Os complexos culturais são de campos energéticos dinâmicos que promovem uma distorção do mundo para a consciência, gerando respostas automáticas para o outro. Isso torna a realidade do outro invisível, ainda que tal atitude seja inconsciente a nós mesmos. (Singer, 2012). Trata-se, portanto, de um […] agregado emocionalmente carregado de memórias históricas, emoções, ideias, imagens e comportamentos que tendem a se agrupar em torno de um núcleo arquetípico que vive na psique de um grupo e é compartilhado por indivíduos dentro de um coletivo identificado (Singer, 2012, p. 5 citado por Novaes, 2016). 

Os complexos culturais são compartilhados por indivíduos dentro de um contexto grupal ou coletivo especificado. Segundo Singer (2010), para entender aspectos emocionais, ou mesmo psicopatológicos, que circundam determinados grupos, é importante compreender os complexos culturais envolvidos. Isso pode ser compreendido a partir da ideia de que os complexos culturais são fundados em repetidas experiências históricas “que se enraizaram na psique coletiva de um grupo e na psique de cada um dos membros de um grupo, e eles expressam valores arquetípicos para o grupo. Como tal, os complexos culturais podem ser pensados como os blocos de construção fundamentais de uma sociologia interior” (Singer, 2010. p. 6). 

Pode-se compreender, portanto, algumas características fundamentais dos complexos culturais, conforme assinala Klimber (2003): 

I. Os complexos que atuam no contexto grupal do inconsciente cultural organizam crenças e emoções coletivas de maneira a favorecer a organização de uma parte significativa da vida do grupo, assim como fantasias que podem operar dentro da psique individual. Os complexos culturais intermediam o relacionamento de uma pessoa com o um grupo, cultura ou etnia específica de referência. 

2. Os complexos cultuais operam de forma autônoma na psique de cada indivíduo ou na psique do grupo. Isso implica dizer que eles ordenam compreensões restritas à percepção das diferenças, ou mesmo enfatizam as diferenças em estereótipos. Por outro lado, os complexos culturais acentuam a identificação grupal ou a diferenciação do grupo com o outro externo a ele, favorecendo, desta maneira, sentimentos de pertença ou de forte alienação. 

3. Ao passo que organizam as emoções, atitudes e comportamentos que constituem o grupo, os complexos culturais operam como campos energéticos afetados. Entretanto, a dinâmica é impessoal “os complexos culturais não fazem acepção de pessoas, não cuidam de ninguém além do grupo […] Eles simplesmente impulsionam as pessoas para o sentimento e a ação” (p. 230). Dessa forma, produz-se nos membros do grupo, através de uma indução psicológica, sentimentos de comunidade.  

4. Os complexos culturais favorecem a relação emocional do indivíduo com os modelos culturais do grupo.  Quando operam de maneira positiva, os complexos culturais constituem um sentimento individual de pertença. A identidade é, dessa forma, organizada a partir de uma identificação com o grupo (cultural, étnico, racial ou social). Da mesma forma, ao se constelar a função negativa do complexo cultural, esta promove a construção de estereótipos e preconceitos que fundamentam atitudes que enxergam o outro como farsante. 

5. Os complexos culturais proporcionam ao indivíduo e aos grupos um senso de pertença e identidade em uma continuidade histórica, os pressupostos emocionais compartilhados significam que o arquétipo do Self (princípio organizador) é evocado por complexos culturais, que então lhes disponibilizam toda a energia nos níveis arquetípico e pessoal da psique. É necessário dizer que isso pode tornar os complexos culturais muito perigosos (como a multidão do linchamento), mesmo que eles permitam, em outros momentos, inspirar o espírito coletivo de maneiras mais positivas (patriotismo, por exemplo). 

Ao se tentar compreender e organizar a história psicológica de determinada cultura, através dos complexos culturais, verifica-se que a memória cultural não se relaciona somente aos membros da cultura/grupo, mas à própria cultura/grupo que produz seus próprios campos emocionais. O memorial cultural se utiliza da psique individual de seus membros para difundir afetos e ideologias, de maneira a moldar valores, prescrições, rituais, expectativas e a própria história do grupo. Nessa direção, a maneira como os grupos/culturas concebem a dívida para com o passado, bem como as reparações exigidas do futuro, são profundamente influenciados pelos complexos culturais (Singer, 2003).  

A exemplo, se a experiência do espírito do grupo, a nível grupal, é positiva, a ligação do grupo não obrigatoriamente irá ativar um sentimento de ódio arquetípico ao externo ao grupo. Se de outro modo, a experiência do espírito grupal foi negativa, pode-se disparar as defesas arquetípicas do espírito grupal. Assim, pode-se refletir sobre os complexos culturais como “blocos de construção” elementares para conceber a construção do nível cultural da psique grupal e dos membros do grupo. 

Defesas arquetípicas do espírito grupal 

O espírito grupal diz de uma representação da experiência matriz na vida do grupo. Quando essa experiência é considerada bem nutrida e saudável, o espírito grupal sustenta e orienta o grupo e cada membro. Do contrário, quando o espírito do grupo está traumatizado, vulnerável ou ferido, ativam-se as “defesas arquetípicas”, que podem assumir uma energia violenta e agressiva, a fim de proteger o “valor cultural sagrado” e a possibilidade de extinção do grupo (Singer, 2003). Nessa compreensão do complexo cultural, é preciso entender três componentes fundamentais: (i) as feridas traumáticas do grupo, lugar ou valores que conduz o espírito do grupo; (ii) o medo de extermínio do espírito pessoal ou do grupo por um estrangeiro; (iii) o surgimento do guadião/protetor, ou vingador, promovendo a defesa aos “perseguidores” do espírito grupal. 

As defesas arquetípicas do grupo, ativadas em alguns complexos culturais, direcionam e transformam o espírito agressivo do grupo. “Eu vejo essa resposta como automática, reflexiva, impessoal e, de certa forma, a maneira mais natural para a psique grupal no aperto de um complexo cultural reagir” (Singer, 2003, p. 203). Assim, a potência dos complexos culturais, que originam tais conflitos, se deve ao caráter autônomo dos complexos. Ou seja, é como se eles adquirissem uma vida própria, “não só na resposta do grupo aos ataques ao seu espírito coletivo, mas também na forma como parecem assumir a residência permanente no cultural nível da psique no indivíduo” (p. 205). 

Assim, os grupos, o lugar dos indivíduos no grupo e os atravessamentos inconscientes nos indivíduos podem ser compreendido pelos complexos culturais, seja pelas características de pertença grupal, seja pelas defesas arquetípicas ativadas, em especial nas relações estabelecidas no espaço de cuidado, ou mesmo nas projeções realizadas pelo externo  ativadas pelos complexos culturais que envolvem o grupo no qual o indivíduo está inserido. 

REFERENCIAS 

Araujo, F. C. de. (2002). Da cultura ao inconsciente cultural: psicologia e diversidade étnica no Brasil contemporâneo. Psicologia: Ciência e Profissão, 22(4), 24-33. Recuperado em 14 de junho de 2017, de 2 https://dx.doi.org/10.1590/S1414-98932002000400004 

Jung, C. G. (2013). A Natureza da Psique. (10ª ed.). Petrópolis: Vozes. 

Kimbles, Samuel, L. (2003). Cultural Complexes and Collective Shadow Process. In: Beebe, J. (org). Terror, violence and the impulse to destroy: perspectives from analytical psychology (pp. 211-234). Canadá: Daimon. 

Singer, T. (2003). Cultural Complexes and Archetypal defenses of the group spirit. In: Beebe, John. Terror, violence and the impulse to destroy: perspectives from analytical psychology (pp. 191-211).  Toronto: Daimon. 

Singer, T., & Kaplinsky, C(2010). The Cultural Complex.  (Reprinted through the courtesy of the editor/Publisher: “Cultural Complexes in Analysis”. In Jungian Psychoanalysis: Working in the Spirit of C.G. Jung, edited by Murray Stein pp. 22-37. Open Court Publishing Company, Chicago.).  Recuperado de https://aras.org/sites/default/files/docs/00042SingerKaplinsky.pdf em 10 de agosto de 2017 

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