BEOWULF vs BEOWULF : UMA DISCUSSÃO ACERCA DO POEMA ÉPICO BEOWULF E DO FILME “A LENDA DE BEOWULF”[1]

 

No final do ano de 2007 a Warner Bros. Pictures e Paramount Pictures lançaram o filme de animação “A lenda de Beowulf”, baseado no poema épico anglo-saxão “Beowulf” datado do século VII d.C., mas que chegou até nós através de um manuscrito do século X.

Na animação “A lenda de Beowulf” a imagem de atores consagrados como Anthony Hopkins, Angelina Jolie e John Malkovich foi digitalizada dando um efeito misto de realidade (atores reais) e fantasia (personagens irreais). Este misto de real e fantástico na produção do filme (independente do roteiro) nos traz a imagem que é própria ao mito.

Os mitos são modelos exemplares para comportamentos e ações do homem, oferecendo ao individuo uma referência de conduta ou ação. O mito possui uma estrutura básica e relativamente imutável, que subjaz às representações da cultura e da época onde o mito floresce.  Ao despirmos o mito de seu aspecto cultural, teremos sua estrutura básica mitemas. Os mitemas correspondem, na psicologia analítica, aos arquétipos – que são elementos estruturais fundamentais do psiquismo.

Na experiência psíquica, os arquétipos são estruturas básicas relativamente imutáveis, garantindo uma organização e coerência fundamental ao psiquismo humano ao longo do tempo.  Contudo, os arquétipos possuem a capacidade de se auto-representar através de imagens que são percebidas pela consciência.  Ao  longo do tempo essas imagens  podem se transformar assumindo formas diferentes, embora seu núcleo fundamental continue o mesmo. Essas imagens arquetípicas fazem parte da vida psíquica humana e se mantém claramente perceptíveis através dos dos mitos e das religiões. Os “DEUSES são METÁFORAS de comportamentos arquetípicos e MITOS são ENCENAÇÕES ARQUETÍPICAS. Os arquétipos não podem ser completamente integrados nem esgotados em forma humana.” (SAMUELS et al.1988, p. 39). [2]

O estudo comparado da mitologia nos permite compreender a dinâmica da psique de uma época ou do espírito da época.  A variação de um mito ou da forma como é contado nos permite observar quais os aspectos mais ativos na psique coletiva de um dado período.

Neste trabalho, consideraremos o filme “A lenda de Beowulf” assim como o poema “Beowulf” como variações do mito de Beowulf, que se insere no tema mítico do herói.  Neste ínterim, propomos uma comparação entre a narrativa mítica (poética) do século X com a narrativa mítica (cinema) do século XXI.

O Poema Beowulf

O poema épico “Beowulf” é um dos mais longos e antigos poemas épicos anglo-saxônicos, possuindo 3182 versos.

Escrito em inglês antigo por volta dos anos 680 e 725, Beowulf é um longo poema de temática heróica que apresenta as principais características épicas anglo-saxãs – sobretudo a dicção típica da narrativa dos feitos bélicos e os valores específicos de conduta militar – mescladas a uma amálgama de material histórico, elemento mitológicos comuns aos povos germânicos antigos e preceitos do cristianismo. (RAMALHO, 2007, p. XI).

Como este poema não é muito conhecido em português, estaremos narrando o poema, utilizando a citação. O poema se inicia narrado brevemente o surgimento da família real dos Danos, até os dias do Rei Hrothgar,

E a glória na guerra então garantiu

Hrothgar. E o seu sucesso se seguiu

da obediência dos homens, seus amigos

de boa vontade, até vir varões

jovens – um bando. Então, ele gerou,

em sua cabeça, a idéia de construir

um salão de hidromel muito suntuoso –

igual a ele ninguém jamais veria.

(…)

As ordens dadas (eu ouvi dizer)

para essa construção, por toda a terra,

mundo-médio, (lar humano) migraram.

Rápido, veio o reconhecimento:

aquele salão era superior.

Hrothgar chamou-o Heorot, o Salão

das Hastes, pelo poder que lá havia

em suas palavras, que eram soberanas.

(versos 63-81 RAMALHO, 2007, p. 5-6).

Após o Rei Hrothgar concluir seu salão, que era cheio de convidados para os banquetes, uma criatura monstruosa passou a atacar o salão do Rei Hrothgar toda vez que havia festividades. Com os ataques freqüentes esvaziaram o salão. Durante 12 anos. a criatura chamada Grendel atacou o salão matando os convidados, o Rei Hrothgar o combateu sem sucesso.

por doze invernos tanta dor teve,

pois, o povo Danes, então passando

por essa magna mágoa. Mesmo em outros

tempos, outras gerações ouviram

(a prole do povo) patentes cantos

sobre a guerra que Grendel contra Hrothgar

travou. Atos hostis, por anos (tantos)

a perdurar – prélio sem paz. Dos Danos,

riquezas e trégua recusou Grendel.

Sábio algum esperava, nos salões,

por diferente decisão daquele

monstro márcio – o qual, à noite; matava:

(…)

Assim, êmulo de humanos, estava

o perverso monstro a perpetrar

seu mal e sua afronta, habitando Heorot

nas negras noites. Não tocava o trono –

assento-dádiva: Deus não deixava-o.

(versos 145-156; 163-167)

Os feitos de Grendel se tornaram conhecidos entre os povos.  Até chegar ao conhecimento do guerreiro Beowulf, sobrinho do Rei do Getas, que se dispõe a ir até o Rei Hrothgar e se oferecer para matar Grendel. Chegando ao rei dos Danos, e façanhas sendo comentadas – como a derrota de Beowulf, num desafio de natação para um guerreiro, chamado Breca, segundo Beowulf, ele foi derrotado devido ataques de monstros marinhos que o levaram para as profundezas, onde ele matou os monstros.

Chegando noite  combinada, o rei Hrothgar e seus homens se retiraram  do salão deixando  apenas os Beowulf e seus guerreiros getas.

Fiava o herói dos Getas na sua força

grande – graça divina. Então, da gálea

e, depois,  da cota férrea despiu-se.

A espada ornada (a melhor) entregou

ao seu criado, a ordenar-lhe que cuidasse

dos seus bélicos artefatos. Beowulf,

ao deitar-se no leito,  depôs verbos –

jactava-se no leito o herói: “Eu, cá, jamais digo

que sou, em poder de pugna, sup’rior

a Grendel – nem em façanhas de guerra.

Não venho para deixa-lo sem vida

com esta espada minha, embora isso eu

pudesse. Posto, pois, que não possui prática

de armas alguma, não há de atacar-me,

nem de me perfurar o pavês, mesmo

que possa ser, assim, tão poderoso

o terror que ele traz. Se não temer

ele lutar desarmado, sem lâmina

enfrentar-nos-emos . Que escolha Deus

sábio(Senhor sacro) o sobrevivente.

(versos 567-687)

A noite, Grendel chega, devora um dos companheiros de Beowulf, quando tenta pegar o herói, este rapidamente acorda e se ataca Grendel iniciando um combate, que por fim terminou com a fuga de Grendel mortalmente ferido – com o braço arrancado.  O prodígio de Beowulf de propagou por todos os lugares, ele foi ricamente recompensado.

A alegria durou pouco tempo, pois as mortes no salão de Heorot recomeçaram.

A sono solto dormiam. Só um

pelo noturno repouso pagava

como ocorria, quando ocupou Grendel

o salão de ouro, até o fim fazer-se-lhe

(mal vindo): após pecados, a morte;

Viu-se (era sabido) que um vingativo

ser, após o prélio, sobrevivera:

tivera que habitar temíveis águas

(fêmea guerreira nas frias ribeiras),

quando, co´a espada, ao seu único irmão Caim

matara – parente de mesmo pai –

e, marcado pela morte, do humano

júbilo fugira – fora para o ermo.

(…)

Humilhado, o algoz dos homens a umbria

da morte procurara, pois, privado de

júbilo. De desgraças jornada

a mãe fez para a desforra de seu filho –

lúgubre no âmago, de vingança ávida.

Foi a Heorot. Dormiam Danos de Anéis.

Adentrou ela o salão. Mais ataques

fez ela, então: desforra ao filho seu.

(versos 1251-1265; 1275-1282)

Beowulf se dispõe a matar a mãe de Grendel, e assim por fim ao sofrimento dos Danos. A mãe de Grendel, era uma espécie de demônio aquático, que vivia numa caverna submarina à beira de um penhasco. Beowulf recebe de um nobre uma espada chamada Hrunting que era considerada excelente, que já fora usada em muitas batalhas vitoriosas, e afirma:

(…)Ou fama, com Hrunting, hei de fazer,

ou ela há de me levar à morte” O lorde

dos Getas, depois de (com tal denodo)

expressar aqueles verbos, então,

não haveria, pois, de réplica aguardar

alguma. E a água recebeu, agitada,

ao guerreiro. Algum tempo ele gastou

para discernir o fundo. Descobriu,

logo, o estranho ser, ao encontro do qual

tal homem descia. A devoradora

(ávida) há meio século nas águas

Estava. Golpe de garra, Ao guerreiro

O monstro tocou, mas não fez mal: malha

de prélio (elos em laços) protegia-lhe

o corpo – cota contra seu cruel golpe

de odiosos dedos. Desceu, a detê-lo

p´la malha de anéis, a loba do mar

rumo ao lar seu, no  fundo.

(…)

Ele se deu conta de que estava

num adverso salão sem água – seu

as enchentes evitava. Então,

reparou luz de fogo, lume rútilo.

O bravo foi bispar aquela fêmea-

Mulher do mar. Deu, co´a espada marcial,

Golpe. Cantou, gládio de guerra, um canto

ávido: lâmina de anéis, eis a arma

na cabeça do ser cravada após

deixar a mão do herói. Mas, divisou

o ser que, lâmina de luta, o gládio

não lhe ameaçava a vida. A arma falhou,

embora fendesse os elmos e as cotas

daqueles em batalhas, destinavam-se

(mano a mano) a morrer. Pela primeira

vez, preciosa peça, a espada no prélio

não fizera lá valer sua fama.

(versos 1291-1505; 1512-1528)

Segue-se uma batalha feroz. Sem espada capaz de vencer a mãe de Grendel, Beowulf ataca de mãos nuas, estando em situação muito desfavorável.

Vira o varão u´a espada de vitórias,

entre as armas – lâmina artificiada

por gigantes. Gume rígido, glória

de lutadores. Excelente  e esplêndida,

era a melhor espada, e a maior. Obra

de gigantes, nunca os homens, nos jogos

de gládios, conseguiam combater co´ela.

De Scyld esse herói chegara-se, então,

(irado estava – letal e implacável)

à arma p´lo cinto que lhe cingia o cabo

anelado. Aflito e irado, atacara:

co´a ponta atingira, pois, o pescoço

do monstro, quando os anéis se quebraram

(de osso). Cravara-lhe o gume no corpo

fadado a falecer. Ao chão, fora ela.

Espada ensangüentada. Ele, feliz.

(versos 1557-1573)

Tendo matado a mãe de Grendel, Beowulf encontra o corpo da o corpo de Grendel, decapita-o e o leva como para o Rei Hrothgar, que o honra com mais presentes, e o louva como grande herói. O rei e Beowulf juram lealdade e amizade.  Após as comemorações, os Getas retornam para casa. Chegando em sua terra natal, Beowulf é honrado pelo rei Hygelac, seu tio, e pelo seu povo pelos seus feitos.

Ambos, por direito ancestral, ali

tinham, naturalmente, terras (mais,

porém, Hygelac possuía, por ter

posição superior). Porém, Beowulf

teria o reino, co´os tombos (na guerra

de gládios) de Hygelac e de Heardred

(sobrinho de Hereric, lá sofrendo –

Rasgado o escudo – espada de heróis:

Danos, atrozes, em triunfal ataque).

Beowulf, protetor do povo, tão bem

Reinaria sua terra natal (rei

sábio), por cinqüenta invernos. Sob ´scura

noite, começaria um dragão, contudo,

(de ouro guardião, num outeiro-sepulcro,

alta pedra) a ataca-los: via haveria –

lá dentro, dos homens desconhecia –

de achar um ladrão tão astuto, então,

que (o dragão a dormir) despojaria-o

do cintilante ouro pagão. Sob fúria,

ao acordar, ele atacaria o arrebalde.

(versos 2200-2220)

Beowulf, o mais bravo dos getas, apesar de idoso, se dispõe a proteger seu povo, com alguns bravos guerreiros, ele se prepara para enfrentar o dragão. Segue assim, até a caverna onde o monstro jazia.

Verbos ditos. Veio o dragão malévolo –

colérico. De chispas coruscante,

o monstro, outra vez, contra os seus odiosos inimigos investiu. Incendiou,

´té o cabo, o broquel com flamas em fluxo,

quais vagas. A cota não conseguiu

guardar o jovem lutador de guerra.

Mas, pele jogou sob o pavês do amigo,

com denodo, depois que  o seu ardera.

Então, o marcial rei (na mente, glória,

outra vez), co´o gládio de guerra, golpe

desferiu (o impelia a força da ira)

no crânio do ser. E quebrou-se Nægling:

gorou o antigo gládio gris de beowulf –

pelas feridas que fizera era ela

enrijada. O fado não fez o férreo

gládio o auxiliar na guerra. Forte

a mão é desse que maneou espadas

para além da dureza delas – assim

ouvi. Mas bem não estava o bravo homem.

Rumo a ele o dragão de fogo ropeu,

(p´la terceira vez, quando teve chance)

Terrível, quente e cruel: luta intentava

Co´afiadas presas prendeu-lhe o pescoço.

E Beowulf de sangue banhado estava:

O licor da vida de lá vertia um jorro.

(versos 2668-2693)

Beowulf cai desacordado. Os companheiros ou fugiram ou foram mortos pelo dragão, apenas Wiglaf ficou ao lado do rei dos Getas, auxiliando-o.

O rei, pois, aos sentidos retornou.

Então, brandiu ele sua espada afiada –

gume de guerra que estava guardado

sob seu arnês. Co´ela atravessando

o dragão, o herói, que era defensor

dos Getas ao meio cortou-o – monstro.

Fizeram o hoste ter derrota. Foi

o valor que levou dele a vida. Ambos

aniquilaram-no – nobres aliados.

(versos 2705-2713)

Mortalmente ferido, Beowulf e Wiglaf conversam pela ultima vez. Beowulf pede para ver o ouro que constara, pagando com a própria vida.  A morte de Beowulf foi honrada pelo povo. Uma grandiosa pira funerária foi erigida e ali o herói que venceu Grendel, sua mãe e o dragão, encontrou seu descanso final.

Beowulf de Hollywood

A versão cinematográfica do mito de Beowulf possuía muitas diferenças do mito do século X. A história de Beowulf segundo o filme se inicia com uma comemoração no salão de hidromel do Rei Hrothgar, que bêbado festeja com seus homens, até o som das cantorias chegam até a caverna de Grendel, que sentido “dores” devido os cantos alegres parte de sua caverna em direção ao salão, onde inicia um ataque contra os participantes do salão.  Contudo, o único homem que Grendel não podia atacar era o Rei Hrothgar. Após o ataque  Grendel retorna à caverna onde encontra sua mãe,  que o questiona sobre o que ele tinha feito e se ele tocou no rei.

Com os ataques de Grendel, o salão de Hidromel de Hrothgar é fechado. A noticia do fechamento do salão de Hrothgar chega à Beowulf, que navega até a terra do Danos em busca de glória. Uma vez na terra dos Danos, Beowulf  chega ao Rei Hrothgar prontificando-se a acabar com sua aflição. Nesse meio tempo, Beowulf é questionado sobre sua competição com Breca, da qual saiu perdedor. Beowulf  responde que lutou com monstros marinhos e por isso abandonou  a competição, respondendo de forma ofensiva a quem lhe inqueriu.

O rei Hrothgar aceita de bom grado a ajuda oferecida por Beowulf, que em meio aos festejos fica flertando com a rainha de Hrothgar. Já era noite, quando o Rei Hrothgar, bêbado, se retira e chama sua rainha para ir, Beowulf começa a retirar usa roupa e dizer que lutaria desarmado assim como Grendel, diante da rainha, se exibindo e seduzindo a rainha – por que apaixona-se, que logo após se retira para os aposentos de Hrothgar, onde é revelado que Hrothgar e a rainha Wealhtheow não tenha uma vida intima, nem herdeiros, pois a rainha se recusava a deitar junto com Hrothgar por sabe teve relação com o demônio sem nome – a mãe de grendel, sendo ele pai de Grendel.

No meio da noite, com os homens cantando, Grendel ataca o salão. Devorando e matando os homens. Ao se aproximar de Beowulf, este acorda, e inicia um combate sem armas. Quando Grendel ameaça fugir, Beowulf que o havia prendido por um braço com uma corrente, o segura, quando ele tenta sair pela porta, Beowulf arranca seu braço batendo a porta contra o mesmo.  Mortalmente ferido, Grendel foge para sua caverna, onde encontra sua mãe, conta-lhe o ocorrido e morre.  A mãe parte em busca de vingança. Enquanto isso, os homens comemoram e Hrothgar dá um chifre dourado em forma de dragão como presente a Beowulf e todos comemoram. Ela invade o sonho de Beowulf, tentando seduzi-lo para ter um filho com ele – e quando ele acorda todos seus companheiros estão mortos.

Beowulf resolve se vingar e parte em busca da mãe de Grendel, em sua caverna.  Ao encontrar a mãe de Grendel, ela fala sobre glorias do futuro que ele terá se unir a ela e lhe dar um filho.  Beowulf tenta ataca-la inutilmente.  Ela lhe promete ele será um rei invencível, sempre forte, majestoso. Como parte do acordo, ela exige que ele deixe a taça em forma de dragão que recebeu de Hrothgar, enquanto essa taça permanecer com ela o acordo tudo que ela prometeu continuará válido. Beowulf aceita.

Quando retorna ao Rei, Beowulf leva a cabeça de Grendel e afirma que matou a mãe. Hrothgar chama Beowulf para conversar e desconfia que ele não falou a verdade. Na conversa Hrothgar afirma que “ a mãe de grendel, não é mais minha maldição”. Retornando para a festa, o Rei Hrothgar declara para todos, que quando ele morresse Beowulf seria seu sucessor no trono.  Pouco depois, Hrothgar se afasta e se suicida, Beowulf é declarado rei.

Passam-se cinquenta anos. Beowulf, já velho, com cabelos brancos está num campo de batalha. Insatisfeito com as batalhas e com a vida. Apesar de ter-se casado com a rainha Wealhtheow, ele não teve filhos, nem sequer conseguia dormir com ela, o mesmo ocorre com outras mulheres. Apesar de amar Wealhtheow, Beowulf não consegue tê-la como mulher.

Numa noite, um dos servos traz a antiga taça do dragão que pertenceu a Hrothgar, assustado Beowulf questiona onde foi encontrada a taça, e lhe dizem que foi achada nos montes. Nessa mesma noite, um dragão começa assolar o reino de Beowulf. Uma vez que a taça retornou à Beowulf, o acordo com a mão de Grendel estava acabado.

O dragão passou a atacar o reino, Beowulf, pai do Dragão, tomou sobre si a responsabilidade do que estava acontecendo e pôs em direção da caverna onde estava o Dragão e sua mãe.  Lá chegando, o dragão se revela e parte para destruir o castelo e matar a rainha. Beowulf o persegue e trava uma batalha com o dragão.  Sacrificando a si mesmo, consegue matar o dragão.

Após a morte de Beowulf, ele recebe um funeral real, sendo colocado num barco fúnebre. Quando o barco está submergindo,  a mãe de Grendel e do Dragão aparece, e beija Beowulf. Depois aparece próxima a Wiglaf, o novo rei, como que se também quisesse seduzi-lo.

Entre o Poema e o Filme

Para podermos pensar e discutir o mito de Beowulf nessas duas versões devemos ressaltar algumas diferenças entre essas duas versões.

Personagem/Elemento

Poema

Filme

Beowulf

É um guerreiro orgulhoso, que busca a gloria, realizando grandes feitos. É honrado e fiel às convenções de corte.

É um guerreiro arrogante, que se impõe pela força em busca da glória.  Egocêntrico não se importa em cortejar a esposa do rei seu anfitrião.

Rei Hrothgar

Um rei sábio, corajoso que fez de tudo por seu povo.

Um rei fraco, alcoolista. No filme Horthgar nem de longe lembra um rei guerreiro.

A relação de Grendel e o Rei Hrothgar

Grendel não atacava o Rei Hrothgar porque Deus não permitia

Não atacava Grendel por ser filho de Hrothgar, e ter sido proibido pela mãe.

Grendel

É um ogro, monstro que devora carne humana

Filho de Hrothgar com um demônio marinho, ataca por estar se sentido “ferido” com as cantorias do salão de Hrothgar

Mãe de Grendel

É um ser demoníaco, um demônio marinho.

É um ser sedutor, sensual, com características reptílianas.  Após a morte de Beowulf, ela aparece no mar e posteriormente tenta sutilmente seduzir Wiglaf – o novo rei.

Dragão

É um dragão clássico. Uma gigantesca serpente.

É Filho de Beowulf, é um dragão alado e cospe fogo.

Batalha com o dragão

A batalha ocorre na caverna, no subsolo. Beowulf

A batalha em si, ocorre durante o voo do dragão, que vai até o castelo matar a rainha Wealhtheow, esposa de Beowulf

O Reino de Beowulf

Beowulf herda o reino do tio, após sua morte – Beowulf não desejava o trono, mas com a morte do tio e do primo ele era próximo na linha de sucessão, se tornando protetor do Getas

Recebe o reino de Hrothgar como se fosse uma maldição. Após, o anúncio que seria o herdeiro de Hrothgar, este se suicida entregando o trono à Beowulf.

Rainha Wealhtheow

Aparece muito pouco no poema.

É bela e sábia.

Morte de Beowulf

Durante o combate, Beowulf é mordido pelo dragão – sendo assim envenado. Ele morre pouco tempo depois de vencer do dragão.

Após, arrancar o ferir mortamente o dragão, que estava em pleno vôo, ambos caem no penhasco, morrendo juntos na praia.

Enterro de Beowulf

Beowulf é cremado numa pira funerária.

É lançando num barco funerário, que após incendiado submerge no mar.

O Mito e o Arquétipo do Herói

Quando falamos em “mito do herói” não nos referimos a um mito específico, mas a uma categoria de mitos que se referem a essa temática.  De forma geral,

A aventura do herói pode ser resumida no seguinte (…): O herói mitológico, saindo de sua cabana ou castelo cotidianos, é atraído, levado ou se dirige voluntariamente para o limiar da aventura. Ali, encontra uma presença sombria que guarda a passagem. O herói pode derrotar essa força, assim como pode fazer um acordo com ela, e penetrar com vida no reino das trevas (batalha com o irmão, batalha com o dragão; oferenda, encantamento); pode, da mesma maneira, ser morto pelo oponente e descer morto (desmembramento, crucifixão). Além do limiar, então, o herói inicia uma jornada por um mundo de forças desconhecidas e, não obstante, estranhamente íntimas, algumas das quais o ameaçam fortemente (provas), ao passo que outras lhe oferecem uma ajuda mágica (auxiliares). Quando chega ao nadir da jornada mitológica, o herói passa pela suprema provação e obtém sua recompensa. (CAMPBELL, 2003, p. 241-242)

A jornada ou aventura do herói está sempre vinculada a um momento crítico, um momento de tensão onde o herói não surge pelo ímpeto individual, ele é produzido pelo espírito da época. O surgimento, a preparação do herói, a aventura, seus feitos, sua recompensa e sua morte apontam para o processo de transformação de toda uma época. E, por isso é necessária a morte do herói. O herói, como um importante símbolo de transformação, ele surge como o agente de mudança, mas, contudo, ele também pertence à época que ele ajuda a transformar.

(…) virtualmente, todo herói é uma personagem, cuja morte apresenta um relevo particular e que tem relações estreitas com o combate, com a agonística [arte da luta atlética], a arte divinatória e a medicina, com a iniciação da puberdade e os mistérios; é fundador de cidades e seu culto possui um caráter cívico; é ancestral de grupos consangüíneos e representante protótipo de certas atividades humanas fundamentais e primordiais. Todas essas características demonstram sua natureza sobre-humana, enquanto, de outro lado, a personagem pode aparecer como um ser monstruoso, como gigante e anão, teriomorfo [forma animal selvagem] ou andrógino, fálico, sexualmente anormal ou impotente, voltado para a violência sanguinária, a loucura, a astúcia, o furto, o sacrilégio e para a transgressão dos limites e medidas que os deuses não permitem sejam ultrapassados pelos mortais. E embora o herói possua uma descendência privilegiada e sobre-humana, se bem que marcada pelo signo da ilegalidade, sua carreira, por isso mesmo, desde o início, é ameaçada por situações críticas. Assim, após alcançar o vértice do triunfo com a superação de provas extraordinárias, após núpcias e conquistas memoráveis, em razão mesmo de suas imperfeições congênitas e descomedimentos, o herói está condenado ao fracasso e a um fim trágico.” (Brelich apud. BRANDÃO, 2005, p.19).

O herói é um tema universal, isto é, está presente em todas as culturas e mitologias por representar um aspecto fundamental do ser humano.  C.G.Jung chamou esses temas universais de arquétipos. Deve-se notar, entretanto, os arquétipos não são apenas padrões culturais ou vinculados apenas à cultura, são estruturas inerentes ao ser humano, independente da cultura – a cultura vai determinar a sua forma de manifestação e expressão.

Na psicologia junguiana os arquétipos são padrões de organização psicofísica – isto é, padrões que atuam tanto no âmbito psíquico quanto somático – que se manifestam por meio de impulsos/reflexos instintivos para a execução de determinado comportamento. No sentido propriamente somático, a manifestação de um arquétipo pode desencadear reações fisiológicas correspondentes a tal comportamento, por exemplo, temos a pseudociese ou em casos de mulheres passam a produzir leite no contato com crianças recém-nascidas, que não são seus filhos e mesmo sem ter tido filhos. No âmbito psíquico a manifestação do arquétipo se dá na configuração de imagens psíquicas em sonhos, devaneios ou mesmo em idéias relativamente fixas ou persistentes com amplo poder de atração que podem subjugar o ego à sua dinâmica própria.

De forma geral, os arquétipos são reconhecidos pelas imagens culturais a eles vinculados. Em nosso caso, o arquétipo do herói ou o arquétipo cuja temática é a experiência mítica do herói, nos fala do processo de diferenciação e mudança de paradigmas.

(…) no mito do herói jamais se trata da história pessoal de um indivíduo qualquer, mas sempre de um evento transpessoal e ideal de significado coletivo. Mesmo as características quase-pessoais são de natureza arquetípica, por mais que os heróis individuais, os seus destinos e os alvos das suas respectivas lutas com o dragão possam sugerir que diferem uns dos outros.

Mesmo que interpretemos a luta e seu objetivo, no nível subjetivo, como um processo interior do herói, o evento é transpessoal. A vitória e a transformação do herói, mesmo quando apresentadas como eventos “interiores”, são para cada ser humano um evento válido, que deve ser contemplado para ser imitado na vida, ou, pelo menos, para que o sinta. Enquanto a moderna historiografia, com seu viés personalista, se inclina a representar os eventos coletivos da vida das nações e da humanidade como dependentes de impulsos personalistas de monarcas e líderes, o mito reflete a personalidade transpessoal através dos eventos singulares da vida do herói. (NEUMANN, 1995, p. 152)

Devemos, contudo, compreender que herói

etimologicamente, ήρως (héros) talvez se pudesse aproximar do indo-europeu serva, da raiz ser-, de que provem o avésticohaurvaiti, “ele guarda” e o latim seruare, “ conservar, defender, guardar, velar sobre, ser útil”, donde herói seria o “guardião, o defensor, o que nasceu para servir”.  (BRANDÃO, 2005, p. 15)

Dessa forma, o herói é aquele que se coloca a serviço de algo maior, o bem coletivo. O arquétipo do herói é o impulso à manutenção e transformação da consciência, contribuindo assim par o desenvolvimento da personalidade, isto é, do processo de individuação.

Beowulf vs Beowulf

Quando relacionamos as duas versões do mito de Beowulf, notamos uma estrutura básica e algumas diferenças marcantes.  A estrutura básica do mito de Beowulf, compartilhando do tema arquetípico do herói, é mantida – Beowulf como guerreiro em busca de glória, que vence monstros, é coroado e posteriormente tem sua grande ultima batalha onde cai vencido e vencedor.

As diferenças, entretanto, são úteis para compreendermos a necessidade e das dificuldades do homem em cada época.  Os relatos do mito segundo o manuscrito do século X, nos indicam aspectos da psique coletiva do homem daquela época.

Beowulf é um herói geta ou godo, como chamaram os romanos, uma tribo originária da Escandinávia.  No poema medieval no século X, o norte da Europa passava por um processo de transformação, a era Viking estava em franco declínio, chegando ao fim no século XI, quando os guerreiros Vikings deixaram os assaltos (saques) e invasões e criaram reinos, passando a se dedicar ao comércio. O cristianismo modificava a conduta dos povos germânicos e escandinavos e inseria uma nova concepção ética. O mito de Beowulf coloca-se nessa interseção de mudanças na psique coletiva.

No poema Beowulf é um guerreiro que parte de sua terra em busca de aventura e glória. A luta com Grendel e sua mãe, foi parte de sua preparação como herói. Sua descida a caverna marinha (um símbolo feminino e materno – caverna e mar), ao mundo urobórico marinho, nos fala de uma descida iniciática, um segundo nascimento onde beowulf vencendo a “grande mãe” de Grendel, restabelece a paz, restaurando o reinado (paterno) de Hrothgar. O sucesso de sua empreitada, é fundamental no seu retorno à casa, pois o destino lhe reservou, sem que o mesmo desejasse, o trono.

O poema retrata a transição de um guerreiro-aventureiro a um sábio rei, protetor de seu povo. O heroísmo de Beowulf não diminui com a idade – assim como o potencial do arquétipo não está restrito a juventude.

Outro aspecto importante é pouca presença do feminino no poema.  Beowulf é um guerreiro sem donzela; um rei sem rainha. A única presença feminina marcante é a mãe de Grendel, que é um feminino perigoso, urobórico, que assassina os homens.  A ausência de participação ou presença do feminino no contexto do poema nos leva a observar o modelo ideal do homem godo na alta idade média – que era o ideal guerreiro. O não encontro com o feminino impede que Beowulf atinja na velhice a verdadeira sabedoria, apesar de sua justiça ele continua sendo herói. E, por esse heroísmo é morto.

O mito Beowulf medieval nos serve de modelo para pensarmos o a consciência masculina, ergue do inconsciente, lutando contra as forças ctônicas do mundo inferior, mas que por não integrar o princípio feminino não subsiste ao encontro com a sombra-dragão.

A versão contemporânea do mito de Beowulf é igualmente rica e expressa aspectos importantes da psique coletiva contemporânea. O Beowulf de nossos dias é um guerreiro em busca de glória, mas não uma glória vinda da honra de servir, mas pelo desejo de poder. Seu individualismo (quase narcísico) se reflete no modo como insiste em fazer seu nome conhecido, bradando seu nome aos quatro ventos sempre que possível.

Na versão contemporânea, as mulheres são muito presentes na narrativa – a rainha Wealhtheow e a bela mãe de Grendel.  A atração de Beowulf pelas mulheres é evidente desde o primeiro contato com a rainha, onde se mostra “admirado” e logo após “apaixonado” – a ponto de romper com todas as regras de cortesia ao tentar seduzir a rainha Wealtheow quase que diante do rei Hrothgar.

O descaso de Beowulf com regras de cortesia, assim como a representação de Hrothgar como um rei bêbado e fracassado é um aspecto importante que para pensarmos em nossa época.  O nosso herói não respeita as tradições, nem os velhos tem nada acrescentar.

Talvez, deveríamos classificar Beowulf não como herói, mas como um “anti-herói” – ele não serve a ninguém a não ser a si mesmo e seus impulsos.   Beowulf é um herói sem referências – assim como Hrothgar é um rei sem majestade.   Hrothgar é um velho (senex) que não atingiu o auto-conhecimento e a sabedoria – necessárias guiar o herói em seu caminho de transformação.  Tanto Hrothgar quanto Beowulf, são presos ao princípio princípio feminino da  mãe Grendal, os que lhe impedem de ter um herdeiro.

O encontro de Beowulf com a mãe de Grendel aponta seu despreparo para lidar com o mundo ctônico e inferior, que o seduz e o prende num juramento – ele recebe em troca “força” e “majestade” – uma “juventude” que dura 50 anos.  Beowulf não amadurece nem frutifica.

O Beowulf medieval, estava desconectado do mundo feminino preso no mundo patriarcal das normas e tradições, também nosso Beowulf contemporâneo, está preso no mundo da grande mãe, não consegue se unir a sua alma (anima).

Se formos pensar em nosso mundo, onde também há uma perda das tradições, os idosos são asilados (ou exilados) e cada vez mais temos pessoas sem direção, adolescentes de 40 anos, adolescentes que buscam a glória a todo custo  – mesmo que seja da própria vida ou de outros.  A dificuldade de amadurecer é mostrada quando Beowulf, 50 anos depois de ser coroado continua no campo de batalha, como se envelhecesse sem perder o físico da juventude, Beowulf é um misto de herói e puer aeternus.

Podemos compreender a busca pelo Dragão – inicialmente como uma descida, o na caverna – como o encontro com a sombra, um reencontro com seus atos do passado. O que fica bem claro, visto que o dragão é o filho que busca o pai. A após ferir mortalmente o dragão e caírem do penhasco na praia, o dragão (que assume uma forma quase humana) e beowulf ficam estirados lado a lado, como iguais.

No funeral de Beowulf, a presença de mãe de Grendel em seu barco fúnebre, indica o retorno de Beowulf ao mundo materno, do qual ele nunca saiu realmente.  que não conseguiu integrar o feminino de forma criativa, o que impediu que chegasse a um desenvolvimento pleno.

Ao confrontarmos as duas versões desse mito, podemos observar que eles chegam ao mesmo ponto, por vias diferentes.  O herói que não integra o princípio feminino está fadado a uma morte desastrosa. O princípio feminino é o princípio complementar da consciência, isto é, o próprio inconsciente, sem o qual é impossível chegar à totalidade. Contudo, devemos notar, que o feminino não se restringe somente a mãe de Grendel e a rainha Wealhtheow, o dragão-sombra, não deixa de ser um símbolo do feminino. Segundo Neumann,

(…) podemos dizer que o dragão é habitualmente um símbolo do feminino.

(…) Na batalha heróica, o dragão do Feminino Terrível tem um aspecto dual. Num dos aspectos, o dragão aparece francamente para o ego como uma imagem negativa da psique, como a face aterradora do inconsciente que – como impulso e afeto, como letargia e covardia, e a tendência a desistir da luta –  (…) Isto porque, na constelação do dragão, o mundo é também um aspecto do Feminino Terrível gerador de ansiedade, que ameaça devorar o ego-herói e levá-lo de volta aos braços da Mãe-Terrível que está dentro dele, e que em seu abraço incestuoso promete a paz da morte por meio da rendição do eu. (NEUMANN, 2000, p.230-2)

Não podemos deixar, dizer que no filme fica bem claro dos aspectos reptilíneo da mãe de Grendel. O próprio dragão, viveu preso ao mundo urobórico da grande mãe, expressa os desígnios sombrios da Mãe Terrível, que envia o próprio filho para a morte no confronto com o pai.

Na sociedade guerreira gótica, onde o feminino não tinha espaço devido, o mito apontou para o perigo dessa falta, por outro em nossa sociedade, a busca uma igualdade entre os sexos não significa nem diferenciação do ego das imagens arquetípicas, nem integração dos pares opostos, no caso, o feminino(anima) no homem e o masculino (animus) na mulher, o mito de Beowulf aponta para os perigos tanto da falta quanto da submissão ao feminino, que não leva a diferenciação do ego. Em ambas versões do mito de Beowulf, podemos compreender que a não integração do feminino conduz ao um confronto desastroso com o inconsciente(dragão).

Cerca de dez séculos separam as sociedades que produziram as versões do mito de Beowulf. As diferenças entre as versões são enormes, o foco, a caracterização dos personagens, contudo há um elemento fundamental e estrutural do mito que independe da roupagem que recobre o mito, que é o núcleo arquetípico em torno do qual o mito se desenvolve.

Ao discutirmos as duas versões podemos observar que o mito de Beowulf pertence ao grupo de heróis que, como Édipo, não se diferenciaram do feminino, ficando presos ao mundo matriarcal. Cujos feitos heróicos foram ofuscados por sua tragédia.

REFERENCIAS BIBLIOGRÁFICAS

BRANDÃO, Junito. Mitologia Grega, vol III, Vozes: Petrópolis, 2005.

CAMPBELL, Joseph. O herói de mil faces. São Paulo: Pensamento, 2003.

NEUMANN, Erich. História da origem da consciência. 10 ed. Cultrix: São Paulo, 1995.

______________. O Medo do Feminino São Paulo: Paulus: 2000.

SAMUELS, Andrew, SHORTER, B., PLAUT, F.  Dicionário crítico de análise junguiana Rio de Janeiro: Imago,  1988

RAMALHO, E. BEOWULF, Tessitura :Belo horizonte, 2007.


[1] Este artigo é uma adaptação do trabalho apresentado para a disciplina “Mitologia”, ministrada pela prof. Dra. Isabela Fernandes, no curso de pós-graduação/especialização latusensu em “Teoria e Prática Junguiana”, da Universidade Veiga de Almeida, 2008.

[2] Grifos do Autor

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Fabricio Fonseca Moraes (CRP 16/1257)

Psicólogo Clínico de Orientação Junguiana, Especialista em Teoria e Prática Junguiana(UVA/RJ), Especialista em Psicologia Clínica e da Família (Saberes, ES). Membro da International Association for Jungian Studies(IAJS). Formação em Hipnose Ericksoniana(Em curso). Coordenador do “Grupo Aion – Estudos Junguianos”  Atua em consultório particular em Vitória desde 2003.

Contato: 27 – 9316-6985. /e-mail: fabriciomoraes@yahoo.com.br/ Twitter:@FabricioMoraes

www.psicologiaanalitica.com

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