Sobre o Complexo Materno – uma perspectiva desenvolvimentista

O complexo materno é um pilar fundamental na estruturação da vida psiquica e talvez seja um dos exemplos mais usados quando vamos ilustrar a teoria dos complexos descrita por Jung. Por isso, recentemente fui surpreendido quando questionado se havia algo sobre o complexo materno no blog “Jung no Espirito Santo” e, de fato, não havia nada. Em cerca de 14 anos de blog eu nunca me dedicadei a escrever sobre o mesmo. Assim, esse texto é uma forma de reparação, sendo um pouco mais aprofundado sobre esse complexo.

Do Arquétipo ao Complexo – Origens do complexo materno na infancia

Toda vez que falamos em complexo ideoafetivo o qualificamos a partir de seu arquétipo nuclear, isto é, o arquétipo que o estrutura, organiza e qualifica. No caso do complexo materno falamos também sobre o arquétipo materno também chamado de “arquétipo da Grande Mãe”.

O Arquétipo da Grande Mãe condensa a experiência humana do que chamamos de “maternidade” desde os primórdios. Neumann nos chama atenção em seu trabalho “A Grande Mãe” aos apectos elementares desse arquétipo;

No centro do caráter elementar feminino, onde a mulher contém e protege, nutre e dá a luz, se encontra o vaso que é tanto um atributo, como um simbolo da natureza femina.(Neumann, 2003, p.111)
(…) em sua qualidade protetora e acolhedora, congrega em si a vida da familia e do grupo sob o simbolo da casa. Esse aspecto aparece nas chamadas urnas domésticas, vasos moldados na forma de casas. Até os dias de hoje, o caráter vaso feminino, originalmente vinculado à caverna, e depois à casa(no sentido de estar dentro e estar protegido, aquecido ou abrigado no interior da casa), sempre esteve relacionado com a vivência original de ser contido pelo útero (idib, p.125)

Em seu aspecto mais fundamental o arquétipo da grande mãe, representado no vaso, traz as funções positivas basais de nutrição e proteção(contenção) como fundamentos da experiência arquetipica da maternidade. Expressos imagéticamente na mãe-terra, nas deusas-mãe, na fertilidade e segurança.

Em seu aspecto negativo, o arquétipo materno expressa as forças contrárias à relação mãe-filho, isto é, às relações de nutrição e proteção, como a carência, falta e exposição, assumindo o aspecto da mãe terrivel e devoradora, representada nas mitologias nas bruxas, na madrastas dos contos de fadas, assim como no aspecto irado das deusas da fertilidade que fazem sofrer todos os viventes. O aspecto duplo do arquétipo (bom e mau), é uma base fundamental para o desenvolvimento das relações objetais.

Os arquétipos são padrões basais de organização psiquica(pessoal e coletiva) que, em seu aspecto coletivo percebemos através de mitos, rituais, contos de fada. Em seu aspecto pessoal estão na base da possibilidade de desenvolvimento psiquico, tanto do ego quanto dos complexos.

Antes de falarmos de um psiquismo propriamente dito, temos uma fase anterior, a partir da qual o psiquismo poderá se desenvolver. Na fase de gestação, parto e nos meses subsequentes não há, no bebê, uma distinção entre corpo e psique, nem dentro e fora, o “Self-bebê” é como um “todo integrado” (corpo-psique), ao que Fordham chamou de Self primário. A partir do nascimento, o Self primario é invadido dos estímulos sensioriais(auditivos, visuais, táteis), cinestésicos, cenestésicos (que começam antes do nascimento e se multiplicam após o parto) que mobilizam o Self num processo de atualização, trazendo o potencial arquetípico para o tempo histórico num processo contínuo e rítmico que Fordham descreveu como deintegracao-reintegração.

É importante ressaltar que, o início da vida, não há um ego organizado, nem uma consciência diferenciada dos processos fisiológicos, assim ainda não podemos falar de símbolos nesses processos precoces, mas sim de objetos, que mobilizam e possibilitam os processos necessários ao amadurecimento. No inicio da vida o Self primário do bebê está mobilizado pela dinâmica do arquétipo materno, pela experiência fisica proteção/estabilidade por de estar contido na mãe(vida intratureina) e, posteriormente, por ser contido pela mãe – colo, cuidados, manejo. Assim como pela nutrição necessária a vida.

Inicialmente, o bebê não percebe a mãe uma “pessoa” mas como sensações, percepções que afetam, mobilizam e geram transformações no Self primário do bebê. Esse processo foi nomeado por Fordham como deintegração-reintegração. Nessa fase da mãe como “objeto” é descrita por C. Bollas como “objeto transformacional”

(..)chamei o primeiro objeto de objeto transformacional, uma vez que quero identifica-lo com a experiência que o bebê tem dele. Antes de a mãe ser personalizada para o bebê como um obejto total, ela funciona como uma região ou como uma fonte de transformação. (…) (BOLLAS, 2015, p.63)

(…) Uma vez que esta é uma identificação que começa antes da mãe ser representada mentalmente como um outro, é uma relação objetal que não emerge do desejo, mas de uma identificaçao perceptual do objeto com sua função: o objeto como transformador ambiente-somático do sujeito. A memória dessa relação objetal precoce se manifesta na busca da pessoa por um objeto (pessoa, lugar, evento, ideologia) que prometa trasnformar o self. (BOLLAS, 2015, p.50)

A partir da relação primária com o ambiente materno, as experiências arquetípicas do Self do bebê deintegram-se (isto é, como se partes do Self, em estado de prontidão, se desborassem para receber a experiência atual) e são reintegradas ao self do bebê, fundamentando o caminho do desenvolvimento da experiência pessoal. O processo de deintegração-reintegração ocorre ao longo da infência, através da constância das relações e transformações que do bêbe vive em sua relação com o ambiente (mãe/cuidadores), dessa constância e atualização do potencial arquetípico(deintegrados) desenvolvem-se os objetos do Self que mobilizam e estabilizam a criança em seu amadurecimento e na relação os objetos reais. Dos objetos do self , desenvolvem-se as representações do Self, que são estados parciais de consciência ou “ilhas de consciência”, que virão a formar os núcleos do ego. Os objetos do Self formam a base arquetípica para os complexos.

O arquétipo materno é a dinâmica fundamental que possibilita e sustenta a relação mãe-bebê, que é humanizado, ou seja, se torna acessível à consciência através da vinculação e apego com a mãe. A experiência transformacional do cuidado materno possibilita a transição do somático para o psiquico. Esse processo envolve, especialmente, o que Bion descreveu como a função alfa materna ou revêrie materna.

Acredito que devemos fazer uma breve explicação, Bion postulou que haveria dois elementos basais da psique, os elementos beta – que se seriam relacionados as sensações, emoções e percepções que não estariam disponíveis aos processos superiores da psique (sonho, pensamento p.ex), isto por serem pré-simbólicos, psicódes. Os elementos alfa, por sua vez, que poderiam ser representados na psique, como parte fundamental do pensar, sonhar e experimentar a realidade, por serem representações, sendo elementos simbólicos compatíveis com a consciência do ego.

Na primeira infancia, os elementos beta seriam transformados em elementos alfa pela ação materna mais precisamente pela função alfa materna, que atua quando a mãe percebe seu bebê, suas expressões do bebê, e transforma suas reações fisiológicas em comunicação, como, por exemplo, atribuindo ao choro um signficado, nomeando e seja como fome, dor, frio/calor etc, e assim ao nomear ações, afetos, sons a mãe possibilita o desenvolvimento da capacidade de simbolizar do bebê, tornando conscientes e acessíveis à consciência, processos então inconscientes.

A descrição dos elementos beta e alfa, de Bion, e, especialmente da função alfa ou reverie materna, é importane pois a partir da função alfa materna que se desenvolve a função alfa do bebê, isto é, a capacidade de simbolizar. Esta é uma referência importante para pensarmos o desenvolvimento do que Jung descreveu como função transcendente na infância.

Esse processo de constituição do complexo materno a partir das experiências e transformações que ocorrem na criança se extendem ao longo de toda infância, até o ego maduro ser capaz exercer a função alfa, ou a função transcdente. Esse modelo é fundamental que se estende à prática analítica, deve-se notar que vaso alquimico descrito Jung como uma representação do enquadre analítico, assim como a relação conteudo-continente de Bion, são alusões ao processo fundamental e transformacional relacionado ao arquétipo materno, assim como a possibilidade de imaginativa e intregadora simbólica da função transcendente de Jung e sua correlata bioniana função alfa materna.

Dessa forma, podemos compreender a relação arquétipo materno -> mãe/ambiente-> complexo materno é importante por ser a base para:

1 – A vivência de estar em si-mesmo como experiência de segurança/proteção e nutrição se relaciona diretamente com nos padrões relacionais vinculos e apego (como descreveu Bowlby).

2 – O cuidado materno/cuidadores provendo um ambiente suficientemente bom, possibilita que a partir dos objetos bons internalizados para experienciar-se como bom e assim para o desenvolvimento saudável do ego, tendo uma autoimagem, autopercepção e autoconceito saudáveis.

3 – A função transcendente, isto é, a tendência de integração da consciência e o inconsciente que se expressa na formação de simbolos, está diretamente relacionada a atitude simbólica materna, na revêrie ou função alfa materna.

O Complexo Materno e sua relação com o Ego

Os complexos integram, organizam e disponbilizam nossas memórias signifivativas(isto é, as memórias que podem ser sensações ou representações com teor afetivo), como referências para o Ego. A experiência relacional mãe-criança é de uma complexidade que envolve por um lado a experiência mais própria do Self, como fundamento da experiência individual e, por outro, da experiência da mãe pessoal. Por isso mesmo há um contorno diferenciado ao complexo materno. Desde modo, o complexo materno possui caracteristicas próprias e poderia ser compreendido por duas perspectivas:
– Complexo materno como representação do Self
– Complexo materno como experiência com o cuidado materno pessoal

– Complexo materno como representação do Self

Na infância a imagem/experiência da mãe é asimilada pela criança, criando uma imagem ou objeto interior que não é caracterizado apenas por memórias e afetos relativos a mãe/cuidadores pessoais(isto é, o complexo), mas pela imagem ou projeção do Self. Essa projeção é uma experiência numinosa e transformadora foi descrita pelo escritor britânico William Makepeace Thackeray como a “mãe é o nome de Deus nos lábios e corações das crianças pequenas.” A experiência da mãe, pela identificação projetiva, é a própria vivência de si-mesmo.

A internalização da experiência com a mãe boa o suficiente possilita a experiência de si-mesmo como bom, como Fordham aponta que

“os objetos bons: eles podem ser projetados no seio, que se torna idealizado e pode gerar não apenas satisfação mas uma sensação simultânea de êxtase. O seio bom também pode ser assimilado, introjetado, e isso dá ao bebê a oportunidade, de ter dentro de si mesmo objetos bons, aumentando a vivência de si mesmo como bom, pela identificação com o objeto bom” (FORDHAM, 2001, p.107)

A experiência de si mesmo como bom, possiblita uma formação de ego coeso, baseado numa experiência positiva com o corpo e com o ambiente. Acima nos referimemos ao arquétipo materno, cujo deintegrado é objeto transformacional que promove transformações no corpo e psique. Com o desenvolvimento consciência e da capacidade de simbolizar, a vivência da mãe/cuidadores como um objeto interior assume contornos importantes, como mediador da relação do Ego com o Self. É por isso, que as experiências de perda, abandono, repúdio e desproteção podem ser cruciais na infância.

É a ação primordial do objeto primário que semeia vida no aparelho psiquico em ormação e, com seu investimento, ainda a delinear os contornos da imagem narcísica, estruturante da subjetividade. Se o objeto primário não captar e reconhecer essa existência distinta, nem refletir e significar o que pode divisisar como o sujeito em formação, poderá ficar inscrito no inconsciente um vazio, e o Eu, identificado com o nada, permanece uma “moldura vazia”. Instala-se uma disposição melancólica, um enfraquecimento do Eu de ordem traumática, que reflete uma fixação mortífera no ideal do Eu inacessível, a qual, por sua vez imprime uma desvitalização ao mundo e reflete o domínio de uma patologia de abandono, como relembrou Lambotte(1996). (MARRACCINI, 2021, p. 33)

Assim, a figura materna, atravessada pelo experiência do self, é tão determinante da vida não só das crianças mas também dos adultos. Através do arquétipo materno, temos a expressão da vida, do estar contido, vivo e em segurança. Quando por algum motivo essa relação com a mãe(que recebe essa projeção) é rompida ou vivida negativamente, o ego busca proteger o objeto idealizado, dividindo-o, e identificando-se com seu aspecto negativo. Sobre a perda da relação com o Self, Edinger afirma

O Si-mesmo, na qualidade de centro e totalidade da psique, capaz de concilar todos os opostos, pode ser considerado um orgão de aceitação par excellence. Como inclui a totalidade, ele dever capaz de aceitar todos os elementos da vida psíquica, por mais antitéticos que possam ser. O sentimento de ser aceito pelo Si-mesmo dá ao ego força e estabilidade. Esse sentimento de aceitação é veiculada para o ego através do eixo ego-Si-mesmo. Um sintoma da danificação do eixo é a falta de auto-aceitação. O individuo sente que não merece viver ou ser o que é. (EDINGER, 1992, p.69)

Com isso, aspectos como autoconceito, autopercepção, autoestima e autoimagem passam pela experiência materna/complexo materno. Pacientes com complexo materno negativo com fortes sentimentos de inadequação, vazio e melancolia apontam para uma profunda dissociação interior, com a perda do sentido do Self. Por isso, na clínica, mesmo que as relações com a mãe real sejam trabalhadas na transferência, o sentimento de vazio pode permanecer e a transferância assumir contornos arquetípicos. A transferência arquetípica, possibilita que os aspectos do self que não foram integrados na infância possam ser reparados. Fordham aponta que

a transferência arquetípica tem duas características que a pessoal não possui: as projeções são mais claramente partes do Self que precisam ser integradas. Elas também são progressivas e contêm material através do qual a individuação pode ocorrer. O reconhecimento dessas características é concebido como importante porque a interpretação analítica não pode ser aplicada: as entidades primárias foram alcançadas.” (FORDHAM,1986, p. 84).

O relacionamento humano, para além da técnica analítica, torna-se fundamental como a possibilidade de reparar o que foi rompido na relaçõão primaria, possibilitando a retomada do processo de desenvolvimento e de individuação.

Devemos notar, que quanto mais precoce a desconexão da relação primária(ou alienação do self) maior é risco o prejuízo ao desenvolvimento do ego, podendo ocasionar transtornos de personalidade. Noutras situações, a dinâmica psiquica marcada pelas defesas e fantasias na tentativa proteger tanto ego quanto a memória da sensação de integridade do Self, acabam por fragiliza-lo no interjogo das desfesas e fantasias, tornando a experiência de realidade porosa, atravessada pelo inconsciente, nesse campo temos os pacientes somatizadores, alguns pacientes depressivos graves, transtornos alimentares e casos-limites no geral.

– Complexo materno como experiência com o cuidado materno pessoal

O complexo materno oferece a sensação de cuidado, segurança e organização para que o ego possa se perceber e vivenciar diante da realidade. Guggenbhul-Criag(1978) sugere de deveríamos compreender os arquétipos não apenas pelo seu aspecto qualitativo positivo e negativo, mas como relação.

O arquétipo pode ser definido como uma potencialidade inata de comportamento. O ser humano reage arquetipicamente a alguém ou a algo quando se defronta com uma situação típica e recorrente. A mãe e o pai reagem arquetipicamente ao filho ou filha, o homem reage arquetipicamente à mulher etc. Nesse sentido, certos arquétipos têm dois pólos, por assim dizer. Sua situação básica contém uma polaridade. (…)

(…)Talvez não devêssemos falar de um arquétipo materno, paterno ou do filho, mas de um arquétipo mãe-filho ou pai-filho. (GUGGENBUHL-CRAIG, 2008, P.84-5)

A perspectiva relacional que Guggenbhul-Craig aponta é importante tanto para compreender a dinâmica do complexo como um objeto interno, quanto sua relação com a realidade exterior. Ou seja, há uma relação complexo – Ego, onde o conteúdo arquetípico inconsciente constela seu correlato no ego; e uma relação complexo – objeto externo, onde objetos externos podem constelar o complexo e perturbar a consciência.

Nessa perspectiva temos a relação do complexo materno com o ego, em seu aspecto saudável, oferece as referências de sustentação amorosa ao ego e afetividade em relação a si mesmo e ao outro. Em seu aspecto negativo, o ego se defende do sofrimento e angustia gerada pelo complexo, dividindo-o, atacando vinculos de memórias e afeto para neutraliza-lo. A divisão no objeto também gera divisão no ego, onde seu aspecto ferido é reprimido, negado.

Para manter a experiência “positiva” pode-se idealizar a mãe exterior, assim como introjetar os sentimentos negativos no ego, como se esse o individuo fosse “merecedor” de quais ações negativas (passadas, presentes ou futuras) em relação a mãe, se matendo uma relação de dependência e culpa, mantendo uma atitude infatilizada, isto é, regredida.

Em outra situação, o Ego pode se identificar com o complexo, agindo de acordo maternalmente com amigos, colegas e parceiros amorosos. Na identificação, o individuo repete a forma como vivenciou a experiência de sua mãe, ou a forma idealizada, como uma repetição que visaria compensar as experiências negativas do passado.

Em ambos os casos, a análise redtutiva é importante para retirda da projeção ou da identificação com o complexo materno, para assim poder compreender os processos prospectivos da psique.

Algumas considerações finais

Nosso objetivo foi discutir o complexo materno, contudo é importante lembrar que os complexos são entidades isoladas na psique. O complexo materno está em intima relação com o complexo paterno, complexo de poder, complexo frateno. Muitas vezes, a exeperiência registrada como “mãe agressiva, indisponível, rígida” foi na verdade uma mãe exausta, com dupla ou tripla jornada e sem rede de apoio, e, com frequencia, com o pai da criança ausente e/ou fraco. Não podemos pensar o complexo materno descolado do sistema histórico-familiar do individuo.

Assim, o registro psíquico se manifesta como complexo materno mas, na ausência paterna, a mãe também excerce a função paterna, assimilando aspectos realativos ao complexo paterno, aumentando assim sua carga energética.

A relação com a mãe/materno tá áé fundamental para o desenvolvimento individual, isso se reflete na importância do complexo materno. Direta ou indiretamenente sempre lidaremos com o aspectos do complexo materno quando fizermos uma análise profunda.

Referência Bibliográfica

BOLLAS, Christopher. A sombra do objeto. São Paulo: Escuta, 2015.
EDINGER, Edward F. Ego e Arquétipo, SP, Cultrix, 1989
FORDHAM, Michael, A Criança como Individuo, São Paulo, Cultrix, 2001
FORDHAM, M. Jungian Psychoterapy – A study in analytical psychology, London: Maresfield, 1986. 
GUGGENBHÜL-CRAIG, Adolf, Abuso do poder na psicoterapia, São Paulo: Paulus, 2004.
MARRACCINI, E.M. . O eu em ruína: perda e falência psíquica 2ª. ed. São Paulo: Blucher, 2021.
NEUMANN,E. A Grande Mãe, São Paulo: Cultrix, 2003.

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Fabricio Fonseca Moraes (CRP 16/1257)

Psicólogo Clínico Junguiano, Supervisor Clínico, Especialista em Teoria e Prática Junguiana(UVA/RJ), Especialista em Psicologia Clínica e da Família (Saberes, ES). Especialista em Acupuntura Clássica Chinesa (IBEPA/FAISP). Formação em Hipnose Ericksoniana. Coordenador de Grupos de Estudos Junguianos. Atua em consultório particular em Vitória desde 2003.

Contato: 27 – 99316-6985.

e-mail: fabriciomoraes@cepaes.com.br

Instagram @fabriciomoraes.psi

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Encontro “Amplificando Jung”: Você tem fome de quê? A Clínica Junguiana dos Transtornos Alimentares

Nos dicionários amplificar é “tornar(-se) amplo ou mais amplo; tornar(-se) maior (em tamanho, extensão, intensidade etc.); ampliar(-se)”. Na psicologia analítica a amplificação faz parte do método junguiano, onde se estabelece paralelos miticos, culturais, históricos permitindo que o paciente possa ir além de seus conteúdos pessoais, possibilitando uma compreensão mais profunda de seu processo ou sofrimento.

A proposta do Amplificando Jung é trazer temas para a discussão, possibilitando que, através da exposição do tema e a troca com os participantes, passamos amplificar nossa experiência pessoal e nosso conhecimento da psicologia analítica a cada encontro.

osso primeiro Encontro “Amplificando Jung” terá como tema “Você tem fome de quê? Transtornos alimentares na clínica junguiana”. Será um espaço para aprender, trocar e compartilhar conhecimentos e experiências sobre essa temática tão importante e contemporânea, que será apresentada pela profa. Dra. Kelly Tristão, com mediação da profa. Ms. Raissa Rodrigues.

O “Amplificando Jung” é um encontro com dois momentos especiais, no primeiro temos uma palestra que nos aproxima do tema e faz as conexões com a psicologia analítica; no segundo momento, fazemos uma roda de conversa onde os participantes podem tirar suas dúvidas e compartilhar suas experiências!

✅ Datas: 18 de maio de 2024

✅ Horário: das 09 às 11:30.

✅ Endereço: Edifício Centro Empresarial Real Forte
Rua José Farias, 160, Santa Luiza, Vitória – ES

✅ Investimento: R$ 25 reais

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Com certificado de participação!

✅ Mais informações: contato@cepaes.com.br ou (27) 99926-7779.

✅ Palestrante: Dra Kelly Guimarães Tristão. Psicóloga Junguiana. Doutora em Psicologia com enfoque em Saúde Mental (UFES)
Especialista em Psicologia clínica e família, e Especialista em Psicologia Analítica.

Especialização em curso em Transtornos Alimentares: obesidade, anorexia e bulimia (PUC-RJ)

Docente de Pós Graduação e da Formação em Psicoterapia Junguiana (CEPAES). Diretora do Centro de Psicologia Analítica do ES (CEPAES). Pesquisadora na área de Saúde Mental.

✅ Debatedora: Raissa Rodrigues
Psicóloga Junguiana. Mestra em Psicologia (UFES).
Especialista em Psicologia clínica e família, e Especialista em Psicologia Analítica.
Especialização em curso em Transtornos Alimentares: obesidade, anorexia e bulimia (PUC-RJ).
Docente do Curso de Psicologia da Faesa e da Formação em Psicoterapia Junguiana (CEPAES).

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Sobre o desenvolvimento do Ego – Notas para o grupo de Estudo

No dia 15 de abril, discutimos no grupo de estudos o texto capítulo “O Eu” do livro Aion, do Jung. Para pensar a complexidade do Ego, optei em apresentar a visão de desenvolvimento do Ego por Fordham  
 
1 –Quando falamos do bebê quer esteja barriga da mãe ou logo após o nascimento, ele não possui um ego formado ou mesmo um psiquismo diferenciado. O que há é um self primário, uma unidade psicossomática, com todo potencial arquetípico para o desenvolvimento físico e psíquico.  

2 – Fordham afirma que o Self primário é perturbado pelo nascimento (A criança como individuo, p89) por todos os estímulos envolvidos tanto no parto quanto pelo ambiente que geram a ansiedade “prototípica” que mobiliza o organismo, que depois se estabiliza, e repete-se continuamente num processo de relação com o ambiente. Essa ansiedade prototípica é um estado de prontidão a experiência. 

3 – Fordham nomeou de deintegração ao estado de prontidão, mobilização do self-organismo frente à experiência, isso significa que o self se mobiliza, ativando à área do corpo correspondente ao estímulo, por exemplo, a fome mobiliza a zona oral preparando para a sucção, com a satisfação da fome, o self se estabiliza, reintegra (ou seja, a área ativada retorna à totalidade), trazendo a experiência como aquisição pessoal. 

4 – Nos primeiros meses não há a diferenciação de objeto interno ou externo, não há uma diferenciação entre a boca e o seio, entre o indivíduo e o ambiente. Não há um sistema representacional de imagens conscientes ou linguagem, a experiência é sobretudo sensorial. Sobre esse estado primário, Ogden comenta  

Para começar a entender a experiência do bebê ao fantasiar, deve-se tentar o impossível, tentar imaginar-se fora do sistema de símbolos verbais nos quais os adultos vivem e estão presos e, em vez disso, imaginar-se em um sistema de experiência não verbal, sensorial (incluindo experiências viscerais e cinestésicas). Esse ato de imaginação envolve, em parte, uma tentativa de pensar sem palavras. Apesar da extrema dificuldade que temos em nos imaginarmos no estado psicológico do bebê, não há nada de místico na ideia da fantasia infantil. (…) Como no inconsciente, apenas os derivados da fantasia infantil são observáveis. (Ogden, A Matriz da Mente p. 33-4) 

5 – O Self não é um dado subjetivo, mas um Self-objeto (não há sujeito ou subjetividade nesse momento do desenvolvimento) que não tem atividade reflexiva ou volitiva, o processo de deintegração(a expressão da força motriz para o desenvolvimento) não é um dado intencional, nem desejante; é antes de tudo, um padrão arquetípico que impulsiona ao desenvolvimento, através do manejo e o cuidado afetuoso que a criança recebe mães e cuidadoras , que sustenta o processo deintegrativo-reintegrativo.  

A mãe nesse momento é que C. Bollas chama de “objeto transformacional”, ou seja, a mãe possibilita os processos de transformação que ocorrem Self primário. A deintegração e reintegração é uma forma de descrever essas transformações que são somáticas, psíquicas e ambientais. O “objeto transformacional” mobiliza a energia, transforma e integra a existência. Acredito que objeto transformacional seja a experiência mais profunda e primitiva de um “símbolo do Self”. 

5 – Essas transformações no self, que chamamos de  deintegração – reintegração – são processos continuos e rítmicos naturais, Bollas descreve isso dessa forma.   

A dor da fome, um momento de vazio, é transformada pelo leite da mãe em uma experiência de plenitude. Esta é uma transformação fundamental: vazio, agonia e raiva se tornam plenitude e contentamento” (A sombra do Objeto, p. 68) 

A partir da deintegração-reintegração, a experiência biológica se transforma gradativamente em psíquica. Dando inicio ao longo processo de organização psíquica e das relações objetais que levarão ao desenvolvimento do ego  

6 – Com atividade contínua de deintegração-reintegração, a experiência pessoal começa a se firmar e ser estável. Podendo ser reconhecível os objetos do Self como padrões estáveis, básicos de resposta aos estímulos (padrões de movimentos, sorrisos, choro) – ou seja, esses objetos do self envolvem um grau de integração da experiência pessoal (que vão dar origem aos complexos). A partir desses objetos, manifestos entre o somático e o psíquico, começa-se a surgir as representações do self, que se apresentam como ilhas ou núcleos de consciência – que são estados parciais de consciência do Self, que formam os núcleos do ego, que pela atividade organizadora/centralizadora do self integrar-os  e gerando como o ego. A integração do ego emerge como resultado da relação do Self com o ambiente – ao que conduz ao longo processo de amadurecimento que atravessa a vida toda do individuo. 

7 – O amadurecimento do ego na infância necessita de um ambiente bom o suficiente. A experiência positiva dos objetos bons é importante por dar segurança, estabilidade e continuidade nas relações. O objeto mau é identificado como ameaça, como contrário a continuidade da vida,  trazendo ansiedade e instabilidade ao self / ego, que mobilizando defesa para expulsa-los ou neutralizá-los . Forhdam comenta 

O seio bom também pode ser assimilado, introjetado, e isso dá ao bebê a oportunidade, de ter dentro de si mesmo objetos bons, aumentando a vivência de si mesmo como bom, pela identificação com objeto bom. (A criança como individuo, 107) 

Ao longo de todo o desenvolvimento, os processos defensivos visam expelir os objetos maus, garantindo a estabilidade interior que possibilita a continuidade dos processos deintegrativos/reintegrativos, assim como o fortalecimento do ego. É necessário que o ego tenha a vivência de si mesmo como bom, estável, satisfatório, ou seja, tendo a experiência de coesão e segurança – o que possibilitará o desenvolvimento saudável da autoimagem, de autoconceito, autoestima e autoconfiança. 

As defesas primitivas, basais, ou do self são fundamentais nesse momento – pois, o ego imaturo possui poucas(ou nenhuma) capacidades defensivas. A relação objetal inicialmente se dá no prisma do que Melaine Klein descreveu da posição esquizoparanóide, onde não há a reflexão (ou ego reflexivo), a criança ainda não tem a capacidade de suportar com a ambivalência do objeto total, lidando basicamente com processos de defensivos (onde a figura a experiência do ameaçado/ameaçador), por meio de divisões no objeto (bons e maus) como defesa principal. Esses processos se sustentam na onipotência – predominando o pensamento mágico, onde o objeto pode ser destruído e reconstruído, sem dimensão da perda do objeto. 

8 – Com o amadurecimento biológico e psíquico ocorre o desenvolvimento da capacidade do ego em lidar com a ambivalencia dos objetos, tomando consciência da perda, entrando para uma dimensão histórica (onde a perda marca o passado, presente e futuro). Esse desenvolvimento faz a passagem da experiência objetiva para subjetiva, isto é, o com desenvolvimento de um ego reflexivo capaz de fazer escolhas, sofrer(com a perda) e cuidar dos objetos(ou buscar formas de reparação).  Essa passagem foi nomeada por klein como posição depressiva, onde emerge um eu subjetivo.  

A posição esquizoparanóide e depressiva não são superadas, mas coexistem ao longo e expressam de modos de organização psíquica.  

9 – Ao longo de todo esse processo descrito, mesmo antes da criança ter a consciência e capacidade de lidar com os símbolos, há a presença simbólica e transformadora da mãe, que através da “função alfa materna” (ou função transcendente materna), que transforma as expressões somáticas, p.ex. choros em algo com significado- o choro é simbolizado como fome, frio, calor etc  possibilitando o desenvolvimento simbólico do bebê. Como dito antes, a relação afetuosa, constante e segura fornece objetos bons que possibilitam o amadurecimento.  

10 – Esses processos descritos, começam desde o nascimento e desenvolvem principalmente ao longo da infância atuando no amadurecimento do ego (mas, podem ser percebidos ao longo da vida). É fundamental o ambiente seguro, suficientemente bom, para que o ego se fortaleça e se estruture de modo coeso e integro, capaz de elaborar símbolos e exercer as funções conscientes e adaptativas de forma adequada. 

Quando há uma falha catastrófica no ambiente imediato (pais familiares cuidadores) ou mediato (escola, igreja etc) – quer por violência, abuso, negligência, hostilidade – o desenvolvimento do ego pode ser prejudicado – podendo gerar uma neurose quanto quadros mais graves que podem levar a transtorno de personalidade – como no caso do trauma precoce. 

Referências Bibliográticas

FORDHAM, Michael, A Criança como Individuo, São Paulo, Cultrix, 2001

OGDEN, T. H. A matriz da mente: relações objetais e o diálogo psicanalítico. Tradução: Giovanna Del Grande da Silva. São Paulo, SP: Blucher; Karnac, 2017

Bollas, Christopher. A sombra do objeto. São Paulo: Escuta, 2015.

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Fabrício Fonseca Moraes (CRP 16/1257)

Psicólogo Clínico de Orientação Junguiana, Especialista em Teoria e Prática Junguiana(UVA/RJ), Especialista em Psicologia Clínica e da Família (Saberes, ES). Diretor do Centro de Psicologia Analítica do CEPAES. Formação em Hipnose Ericksoniana. Coordenador do “Grupo Aion – Estudos Junguianos”  desde 2012 Atua em consultório particular em Vitória desde 2003.

Contato: 27 – 99316-6985. /e-mail: fabriciomoraes@cepaes.com.br/ Twitter:@FabricioMoraes

http://www.cepaes.com.br

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As Quatro Etapas ou Processos em Psicoterapia – Notas para Grupo de Estudos

Em abril de 2024 começamos um grupo de supervisão e estudos clínicos, nesse post (em outros futuros) trago apenas as anotações que fiz para a discussão dos estudos clínicos.  

No primeiro encontro optei em falar acerca das quatro etapas da psicoterapia( confissão – esclarecimento – educação – transformação) , descritas por Jung no livro A prática da Psicoterapia (no capítulo “Os problemas da Psicoterapia Moderna”). E contrastando com algumas contribuições importantes de Kenneth Lambert, no livro Analysis, Repair and Individuation, que nos chama atenção que seria mais apropriado chamar as “etapas” de processos – pois, não ocorrem de forma linear começando na confissão em direção a transformação, tão pouco refletem momentos estabelecidos na análise, e algumas vezes, as 4 processos podem ser percebidos numa mesma sessão.  

Confissão  

A confissão é um processo correlato ao uso religioso, isto é, a exposição de um segredo pessoal.  
Jung diz “Um segredo partilhado com diversas pessoas é tão construtivo, quanto destrutivo é o segredo estritamente pessoal.” p.54 

Ou seja, o segredo coletivo integra, dá um sentido  de identidade e sentimento de pertença. O segredo pessoal, por outro lado,  é exatamente o oposto, segrega, despersonaliza e exclui. E, aponta três formas do “segredo pessoal” 

  • Consciente: que gera angústia e culpa   
  • Inconsciente – associado aos complexos, que veremos se manifestar no sintoma neurótico e impulsos inconscientes.  
  • Contenção ou repressão dos afetos 

A confissão se caracteriza pelo método catártico, ou seja, pela descarga emocional (ab-reação) que tiraria o indivíduo de sua miséria pessoal e liberaria os afetos possibilitando a renovação da energia psíquica na consciência.  

Como processo,  Lambert, (1981, p. 29), destaca três elementos que devemos ter atenção:  

  1. que o método catártico a longo prazo cair em repetições das descargas emocionais, se tomando muitas vezes o eixo do tratamento. E, assim, com Jung aponta, gerando a dependência da figura do analista. Tornando necessária o esclarecimento ou elucidação.  
  1. Tem uma eficiência limitada com pacientes  defensivos, onde a resistência se impõe como uma proteção escondendo a culpa ou emoção inconsciente. A resistência pode impedir a confissão ou impedir a elaboração do conteúdo, mantendo o paciente circularmente preso no processo catártico.  

Jung afirma o método catártico devolve à consciência conteúdos que seriam próprios a consciência.  

Elucidação ou Esclarecimento 

Jung indica dois aspectos fundamentais para pensar a elucidação: 

  • Fixação em etapas infantis do desenvolvimento – falamos de uma percepção da necessidade de compreender o processo de amadurecimento, os complexos e, assim, nos deparamos com o problema da sombra, que se opõe ao ego, e aponta para o que o individuo é, mas não reconhece.  
  • A transferência é o aspecto dinâmico onde esses conteudos podem ser acessados.  Vale ressaltar que hoje compreendemos que não há transferência sem contratransferência, são um único processo, de uma relação intersubjetiva. Logo, a contratransferência é um indicativo importante para pensar o processo de elucidação.  

A contratransferência é  um fenômeno fundamental para a elucidação até para o desenvolvimento da interpretação , pois, como Fordham indica, a interpretação é um processo que envolve uma relação dialética com o paciente assim como uma dialética interior com os conteúdos que emergem na contratransferência – a partir dessa relação dialética que se constrói uma interpretação válida.  

  • Outro método importante no contexto da elaboração seria a reverie, mas falamos noutro momento.  

Jung é naturalmente crítico com Freud, até por se tratar de um texto de 1929 e pela rigidez do pensamento freudiano. Mas, apesar da crítica, ele aponta a importância do método redutivo/interpretativo pois, a intepretação é fundamental no campo do esclareceimento, que é a característica do processo elucidativo. Sobre o método redutivo. 

– O método redutivo ou causal visa compreender o processo de desenvolvimento, as fixações infantis, integrar os complexos a partir da compreensão das relações – especialmente parentais que geraram os condicionamentos que fixaram ou prejudicaram o amadurecimento, contribuindo assim para o processo de adoecimento.  

– Quando um junguiano usa o método redutivo-causal, este diferencia-se da psicanálise, pois não visa fases psicossexuais, mas a constituição história do individuo, isto é, os complexos, algo propriamente junguiano. 

–  Lambert utiliza o termo reconstrução para falar da importância do processo de integração da história do individuo, para se apropriar da mesma.  

– a análise redutiva se aplica a todos os fenômenos psíquicos (sintomas, sonhos, fantasias, defesas etc.)  

Desse modo, a gente pode pensar essa afirmação de Jung. 

Nada mais ineficaz do que idéias intelectuais. Mas quando uma idéia é uma realidade psíquica, ela vai penetrando furtivamente nas mais diversas áreas, aparentemente sem a menor relação causal histórica. Nessa hora, é bom prestar atenção. Porque as idéias que são realidades psíquicas representam forças irrefutáveis e q, do ponto de vista da lógica e da moral. São mais poderosas do que o homem e sua cabeça. (Jung, p. 62) 

Quando falamos da análise redutiva o uso junguiano  é muito diferente do que Freud propunha, pois não falamos de algo fruto da intervenção teórica (como aparentemente Jung acusa Freud fazer, e muitos psicanalistas faziam), como falamos acima, visa a relação dialética com o paciente, do paciente com sua história e do analista com os conteúdos que emergem na contratransferência. A análise redutiva visaria tanto a reconstrução (apropriação da própria história do indivíduo de forma simbólica – narrativa e afetos), ao que a série de interpretações levariam a integração dos inconscientes e a consciência – a partir da contratransferência.  A análise redutiva quase sempre levará a uma consideração construtiva.  

Inclusive, a crítica de Jung não se aplicaria a psicanálise contemporânea, tal qual vemos em Bion/Ogden, p.ex., cuja relação simbólica é enfatizada, para além dos processos de racionalização que eram inicialmente utilizados.  

Com frequência, a catarse necessita de elucidação – p.ex. quando emoções emergem no paciente, como raiva ou tristeza, através do choro, é importante trazer um contorno e simbolizar o afeto com uma representação que o ego possa elaborá-los.  

Educação 

É  associado aos processos de adaptação social ou de relações sociais.  

“Generalizando, as pessoas sem dificuldades na área do ajustamento social e da posição social podem ser analisadas pelo prisma do prazer com maior probabilidade de acerto, do que as que se encontram num estágio insuficiente de adaptação, isto é, as que, devido à sua inferioridade social, têm necessidade de prestígio e poder”. Jung P.63 

Jung não define claramente o que ele chama de educação, contudo, temos esse processo de aprendizado tanto em relação às questões sociais.  

No geral, quando passamos “dever de casa” para os pacientes, estamos exercendo essa função educacional. Na verdade, o paciente ter a dimensão de sua capacidade de enfrentamento, se readiquirir a confiança em si mesmo. Ou seja, faz parte do fortalecimento do ego.  

Transformação

Lambert pontua que que as três processos anteriores fazem parte de um grupo e a transformação faz parte outra. Vejamos os pontos: 

1 -Jung aponta que o normal ou ajustado é estar na média, ao que vai dizer “ Consequentemente, existem dois tipos de neuróticos: uns que adoecem porque são apenas normais e outros, que estão doentes porque não conseguem tornar-se normais.”p.67. podemos compreender q esses processos como a inicial do tratamento, quando muitas vezes ainda é necessário reforçar o Ego e garantir a segurança diante dos “ameaças interiores” e um ambiente hostil. 

2 – Jung apresenta um campo relacional mais profundo onde a contratransferência começa a ganhar contornos nítidos. Onde a personalidade do analista se torna fundamental.  

É que, queiramos ou não, a relação médico-paciente é uma relação pessoal, dentro do quadro impessoal de um tratamento médico. Nenhum artifício evitará que o tratamento seja o produto de uma interação entre o paciente e o médico, como seres inteiros. O tratamento propicia o encontro de duas realidades irracionais, isto é, de duas pessoas que não são grandezas limitadas e definíveis, mas que trazem consigo não só uma consciência, que talvez possa ser definida, mas, além dela, uma extensa e imprecisa esfera de inconsciência. Esta é a razão por que muitas vezes a personalidade do médico (como também a do paciente) é infinitamente mais importante para um tratamento psíquico do que aquilo que o médico diz ou pensa, ainda que isso não possa ser menosprezado como fator de perturbação ou de cura. O encontro de duas personalidades é como a mistura de duas substâncias químicas diferentes: no caso de se dar uma reação, ambas se transformam. Como se espera de todo tratamento psíquico efetivo, o médico exerce uma influência sobre o paciente. Influir é sinônimo de ser afetado. De nada adianta ao médico esquivar-se à influência do paciente e envolver-se num halo de profissionalismo e autoridade paternais. As sim ele apenas se priva de usar um dos órgãos cognitivos mais essenciais de que dispõe. De todo jeito, o paciente vai exercer sua influência, inconscientemente, sobre o médico, e provocar mudanças em seu inconsciente. (Jung, p68) 

Isso da margem para inúmeras possibilidades – inclusive de resgatar o que Jung diz no ab-reação…  “ o paciente só suporta o que o médico for capaz de suportar” – a contratransferência assume uma função fundamental no processo. Pois, é o que o que somos é ativado pelo inconsciente do paciente, de modo a podermos fazer a função transcendente para o paciente.  

3 – Jung apresenta a questão ética para o analista em passar pela analise, ter essa relação de coerência consigo mesmo.  Pois, sombra no analista constela a sombra no paciente.  

4 – ou seja, a autocritica, autoavaliação é fundamental para o analista. 

O processo de transformação tem como método a “autoeducação” que poderia ser pensado como o diálogo interior, com a capacidade de se perceber e se relacionar consigo mesmo. por certa uma perspectiva, a autoeducação alinha-se com a o processo de individuação, onde há uma construção de originalidade, que uma relação mais profunda e equilibrada consigo mesmo. 

Nesse ponto é algo que é imprevisível, pois, as implicações se tornam tão individuais que sempre cada caso será particular. Desenvolver a capacidade de nos relacionarmos e nos adaptarmos aos processos do paciente nos possibilita o manejo e auxiliar a autoeducação. 

Referências bibliográficas

JUNG, A Prática da Psicoterapia,Petrópolis: Vozes, 1999.

LAMBERT, K, Analysis, Repair and Individuation, London: Academic Press, 1981. 

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Fabricio Fonseca Moraes (CRP 16/1257)

Psicólogo Clínico Junguiano, Supervisor Clínico, Especialista em Teoria e Prática Junguiana(UVA/RJ), Especialista em Psicologia Clínica e da Família (Saberes, ES). Especialista em Acupuntura Clássica Chinesa (IBEPA/FAISP). Formação em Hipnose Ericksoniana. Coordenador de Grupos de Estudos Junguianos. Atua em consultório particular em Vitória desde 2003.

Contato: 27 – 99316-6985.

e-mail: fabriciomoraes@cepaes.com.br

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A Perspectiva Desenvolvimentista

Uma visão geral

A psicologia analítica é uma abordagem plural, com uma diversidade marcante que toca tanto a prática quanto a teoria. Desde os anos 60/70, as diferenças no modo de pensar a teoria quanto a condução analítica deram margem a diferentes classificações tentaram dar forma e delimitar essa pluralidade junguiana. Das classificações a que mais próximo chegou a ilustrar o cenário junguiano foi a do analista britânico Andrew Samuels, em seu livro “Jung e os Pós-Junguianos” (1985/1989) que classificou três grupos majoritários no campo junguiano (não excluindo a existência de outros) aos quais ele nomeou como escolas: clássica, desenvolvimentista e arquetípica.

Alguns anos depois, Samuels, no texto intitulado ” Will the Post-Jungians Survive?” (1998), revisou sua classificação afirmando as “escolas” poderiam ser melhor compreendidas “tendências”, visto que os “pós-junguianos” teriam contato com todas “escolas”, formando assim, tendências em torno de afinidades da percepção teórica e prática. A mudança de “escolas” para tendências foi importante, pois o campo junguiano não se caracteriza por uma afiliação ou alinhamento a uma instituição específica como o “Instituto de Jung de Zurique” ou a “Society of Analytical Psychology” de Londres, mas pelas leituras, estudos e pela identificação com a visão e proposta.

É importante compreender que a classificação de Samuels apesar de ser didática, de ilustrar as característas gerais dos principais movimentos junguianos desde a morte Jung, não representa uma regra, mas sim uma referência importante para se pensar a diversidade campo junguiano. James Astor, analista junguiano inglês, comentou que Michael Fordham, icone da “escola desenvolvimentista” descrita por Samuels não se via numa “escola”, ele diz que Fordham

(…) nunca pensou em seu trabalho como “desenvolvimentista”, no sentido de haver uma distinção entre “desenvolvimentista” e “arquetípico”. Essas distinções se infiltraram no discurso junguiano após um livro de Samuels no qual, escrevendo para um público mais amplo, ele esquematizou as diferenças de ênfase de várias organizações junguianas e seus membros (Samuels 1985). A objeção de Fordham a essas categorias é que elas criam confusão ao afirmar que fazem distinções que o próprio Jung não fez (Fordham, comunicação pessoal, 21 de agosto de 1994). Todo o trabalho de Jung, na visão de Fordham, é desenvolvimentista, pois esse é o núcleo de seu conceito de individuação, que diz respeito ao crescimento da personalidade.(ASTOR, 1995, p.36)

Essas considerações são importantes pois, a perspectiva ou tendência desenvolvimentista não representa uma ruptura com a obra do Jung, tão pouco é um movimento sectário. E, mesmo quando pensado como movimento dentro campo junguiano, este se possui um amplo espectro de possibilidades características como:

  • Ênfase no desenvolvimento inicial da personalidade
  • O papel do Self na constituição pessoal.
  • Compreensão psicodinâmica do sofrimento psíquico.
  • Um olhar atento à dinâmica do ego e dos processos defensivos.
  • Análise da transferência-contratransferência.
  • Diálogo com escolas da psicanálise.
  • Diálogo com a neurociência.

Essas ênfases se sobressaltam na literatura junguiana desenvolvimentista, privilegiando a prática clínica, os processos psicodinãmicos, a compreensão dos processos de saúde-doença. Mas isso não significa uma negação ou rejeição à fenomenologia dos arquétipos, os estudos de mitologia e alquimia, esses estudos são importantes e complementam a compreensão clínica, contudo, não se perde o enfoque no processo analítico, o indivíduo sua história vem em primeiro lugar. A esse respeito, Astor, comenta:

Para mim, o estilo tradicional de análise junguiana tratou a mitologia quase como metapsicologia, buscando os mitos para ilustrar o comportamento. Fordham inverteu essa tradição e usou seu trabalho clínico com pessoas para iluminar nossos mitos contemporâneos. Ao inverter a situação, sem renunciar totalmente ao uso de mitos para elucidar o material clínico, ele não apenas prestou um grande serviço à análise junguiana, mas também forneceu uma base clínica para os próprios mitos, fundamentou-os e, assim, impedindo-os de flutuar como se fossem apenas fragmentos de uma análise à deriva em um mundo mágico. (ASTOR, 1995, p. 9)

Devemos considerar que quando falamos do desenvolvimento da personalidade damos atenção aos processos que envolvem o amadurecimento do ego, os complexos e suas relações com a consciência e o ego, assim como as relações de mediação do ego com a realidade interior e exterior – que poderia ser compreendido como relações com objetos internos e externos.

A diversidade Desenvolvimentista

Na obra “Jung e os Pós-junguianos”, Samuels toma como referência para falar da “escola desenvolvimentista” o trabalho desenvolvido por Michael Fordham e colaboradores da Society of Analytical Psychology(SAP) de Londres, pelo pioneirismo na prática da analise infantil, coerência e amplitude da obra que impactaram gerações de analistas. Contudo, como dito acima, o próprio Samuels apontou não é propriamente correto igualar ou identificar a perspectiva desenvolvimentista com a contribuição de Fordham e da SAP. Assim, podemos considerar o cenário desenvolvimentista por ao menos três caminhos:

  • As contribuições de Fordham e da SAP
  • As contribuições de autores independentes.
  • As contribuições de Neumann

As contribuições de Fordham e da SAP

Michael Fordham (1905-1995) foi psiquiatra infantil e analista junguiano inglês,que iniciou sua prática com crianças em 1935, numa época que posição geral de Jung(que não atendia crianças) era que a criança seria como uma extensão da psique dos pais. Dentre os junguianos, Fordham foi o pioneiro na análise de crianças. A clinica infantil fez com que Fordham se aproximasse da obra de pioneiros da psicanálise de criança Melaine Klein e Donald W.Winnicott, que desenvolviam estudos e teorias naquele mesmo periodo. A ênfase do trabalho de Fordham estava na atividade do Self na infância e na pratica clínica.

Fordham frequentou a sociedade britânica de psicanálise, muitas de suas concepções se aproximavam principalmente com as de Melaine Klein, que fez que sua obra fosse idenificada como um híbrido “jung-kleiniano”. Sendo, inclusive, reconhecido pela Melaine Klein Trust como um autor associado à teoria das relações objetais de Melaine Klein.

Como um dos fundadores da Society of Analytical Psychology, Fordham influenciou a perspectiva e estudos sobre o desenvolvimento que incluía seminários de observação de bebês com suas mães. Astor comenta que

Um dos desenvolvimentos mais interessantes na análise infantil foi a criação de seminários sobre observação de bebês. Os analistas infantis em treinamento observam a interação de um bebê com sua mãe durante uma hora por semana, desde o nascimento até os dois anos de idade. Cada observação era anotada em detalhes, apresentada e discutida em um seminário conduzido por um analista infantil experiente. Essa era uma fonte rica de conhecimento e aumenta nossa compreensão não apenas das crianças, mas de pacientes de todas as idades. A observação infantil é particularmente útil para a compreensão do que Bion chamou de “elementos beta” (Bion, 1977) e do que Jung chamou de “processos psicóides”, que “pertencem à esfera do inconsciente como elementos incapazes de consciência” (Jung, 1954). (ASTOR, 1988, p.12)

A ênfase na clínica, na compreensão psicodinâmica e do desenvolvimento influenciou autores como Donald Kalsched, analista junguiano americano, que desenvolveu uma importante contribuição à teoria do trauma, pela psicologia junguiana; a Jean Knox, analista inglesa, que desenvolve aproximações da psicologia junguiana com a neurociência e teoria do apego; Marcus West que possui um trabalho importante na compreensão do transtorno borderline, dentre outros autores cuja obra busca a compreensão dos processos psicodinâmicos do sofrimento psíquico, assim como uma compreensão mais sistemática da técnica junguiana.

As contribuições de Autores independentes : hibridismo

A liberdade de pensamento é uma marca junguiana. O pensamento independente produz concepções hibridas trazendo importantes contribuições que diminuem as distâncias entre as tendências. Como exemplo dessas contribuições independentes podemos citar Mario Jacoby, com formação em Zurique, que aborda em vários de seus livros a perspectiva do desenvolvimento, diálogo com a psicanálise do Self de Kohut, com uma preocupação com a clínica e processos transferenciais, indicando uma tendência que seria desenvolvimentista mas sem uma relação com as teorias de Fordham e da escola de Londres.

Podemos citar também Nathan Schwartz-Salant, analista suiço, com formação em Zurique, apresenta uma aproximação com noções da psicanálise de Kohut e da teoria das relações objetais. Seus trabalhos em português (“Narcisismo e Transformação de Caráter”e “A personalidade limitrofe”), seu trabalho é de uma riqueza enorme, que aproxima tanto da vertente clássica quanto da arquetípica.

A importancia desses e de outros tantos autores que se comprometem com a verdade da psique, com a verdade do aprofundamento da compreensão sem se ater a um “identitarismo” ou partidarismo de escolas.

A contribuição de Erich Neumann

Erich Neumann foi de longe um dos alunos mais brilhantes de Jung que lamentavelmente veio a falecer precocemente em 1960, aos 55 anos, de câncer renal. Neumann não é “classificado” como “desenvolvimentista” segundo a visão de Samuels, mas o rótulo de “clássico” não faz justiça a sua contribuição criativa e inovadora, que desenvolveu uma forma independente de pensar, chegando a incomodar o círculo mais próximo de Jung – como foi o caso do livro “História da Origem da Consciência” cuja publicação na série “Studies from the C. G. Jung Institute” em 1949 foi rejeitada por outros discipulos de Jung.

De sua obra destacam-se três livros que abordam no desenvolvimento: “História e Origem da Consciência”, “A Grande Mãe” e “A Criança”. São três obras extremamente importantes e complementares na psicologia analítica. Nesses livros, com grande erudição, ele enfoca os estágios arquetípicos do desenvolvimento da consciência e da psique individual. Apesar de não ser baseado em experiência clínica, a teoria do Neumann desempenhou um papel importante de trazer uma alternativa à lacuna acerca do desenvolvimento infantil ao trabalho clássico.

Neumann deixou noções importantes contribuições para a psicologia junguiana como o eixo ego-Self – que foi desenvolvimento do Edinger e os dinamismos arquetípicos que foram trabalhados por Carlos Byington. Podemos citar Ceres Alves Araújo que publicou um livro “O processo de individuação no Autismo” trazendo o pensamento de Neumann para a contemporaneidade e prática.

Samuels faz uma colocação importante acerca da relação dos pensamentos de Neumann e Fordham

É possivel dizer que cada teoria é a metade de um todo. Em uma visão conjunta, os modelos de Fordham e de Neumann permitem que falemos de uma abordagem “junguiana” do desenvolvimento inicial, com importantes diferenças de opinião, que se expressam nas Escolas” (SAMUELS, 1989,p. 193)

Concluindo…

Acredito ser importante pensar a perspectiva desenvolvimentista como uma visão ampla, complementar que possibilita o amadurecimento da diagnóstico, a intervenção clínica e formação do psicoterapeuta, mas sem perder a concepção simbólica, o processo de individuação e transformação da personalidade.

A abertura ao dialogo tanto com outras escolas de psicoterapia, com a neurociência, e outras tendências junguianas fortelece o campo junguiano e o coloca como ator no campo das ciências. marca a perspectiva desevolvimentista. No Brasil, o campo junguiano é formado sobretudo por profissionais e grupos independentes cuja construção do conhecimento se na busca criativa pela compreensão da psique e dos processos que afetam os pacientes. Como perspectiva a compreensão desenvolvimentista visa em primeiro lugar o individuo, sua história e sofrimento e depois o cenário arquetípico, simbólico e o numinoso.

Referências

ASTOR, James, Introduction in SIDOLI, MARA; DAVIES, MIRANDA (Edited by), Jungian Child Psychotherapy, London: Karnac Books, 1988.


Astor, J. Michael Fordham: Innovations in Analytical Psychology. London: Routledge. , 1995

SAMUELS,Andrew. Jung e os Pós-junguianos, Rio de Janeiro: Imago, 1989.

SAMUELS, Andrew.  Will the Post-Jungians Surive in CASEMENT, ANN (ed.). Post-Jungians Today: Key Papers in Contemporary Analytical Psychology. London & New York: Routledge, 1998.

Fabricio Fonseca Moraes (CRP 16/1257)

Psicólogo Clínico Junguiano, Supervisor Clínico, Especialista em Teoria e Prática Junguiana(UVA/RJ), Especialista em Psicologia Clínica e da Família (Saberes, ES). Especialista em Acupuntura Clássica Chinesa (IBEPA/FAISP). Formação em Hipnose Ericksoniana. Coordenador de Grupos de Estudos Junguianos. Atua em consultório particular em Vitória desde 2003.

Contato: 27 – 99316-6985.

e-mail: fabriciomoraes@cepaes.com.br

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